sexta-feira, 13 de junho de 2008

O Caipira e a Civilização

Partindo da premissa de que a identidade cultural brasileira foi formada através da miscigenação de brancos, negros e índios, analisemos as especificidades de um elemento parcial resultante dessa mistura: o caipira. Para a sociedade capitalista, este indivíduo, nada mais é do que alguém de origem simples e atrasada, que se veste mal e fala errado. No entanto, definições, como esta, nada mais são que reducionismos ignorantes, vinculados com a não compreensão da sociedade regional. Reflete-se, então, quem é o caipira?
A palavra caipira deriva-se do tupi caapora, sendo caá = mato e porá = habitante, ou seja, “habitante do mato”. De acordo com Antônio Candido, em seu livro “Parceiros do Rio Bonito” (1975), o caipira é proveniente do cruzamento do índio nativo com o português colonizador. Este processo acelerava-se na medida em que esses indivíduos se fixavam no interior paulista, entre os séculos XVI ao XVIII (período do bandeirantismo).
Por um lado, o caipira herdou do índio a familiaridade com a natureza, o faro na caça, a crença nas ervas, o encantamento pelas lendas, as festividades, alguns ritmos e danças (como o cateretê e a catira). Por outro lado, a língua, alguns costumes e crenças religiosas, a música e a viola são fontes recebidas dos portugueses.
No mundo de hoje, globalizado e avançado em tecnologia, alguns destes costumes estão sendo perdidos. Além disso, o caipira é estereotipado pela sociedade contemporânea com preconceito (por exemplo em piadas), e, isto acontece justamente por ele negar a urbanização. Em outras palavras, é um sujeito marcado pela economia de subsistência e rural, sem necessidade de acumular capital e vender seu excedente de produção. Entretanto, a tendência atual é que o caipira também se torne um trabalhador assalariado e participe da economia de mercado.
Resgatemos, portanto, a cultura caipira! Este indivíduo ligado à natureza, a musicalidade, a religião, as festas folclóricas e ao coletivismo, não pode se perder! Talvez o que há de mais belo no caipira seja a resistência de brasilidade, no momento em que ele utiliza da viola para declamar seus sentimentos de alegria, tristeza ou esperança em relação a sua vida e ao país. Em síntese, é como disse Almir Sater, na música “Peão”: “... pelo alto sertão, que agora se chama não mais sertão, mas de terra vendida... civilização”.


REFERÊNCIAS:
CANDIDO, Antônio. Parceiros do Rio Bonito – estudo sobre o caipira
paulista e a transformação dos seus meios de vida. 1975.
www.unimep.br
www.ub.es/geocrit/sn-69-22.htm
ARTIGO PUBLICADO EM 13 DE JUNHO DE 2008, NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP)

2 comentários:

Priscila Trucullo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Priscila Trucullo disse...

Muito bom, muito bom mesmo!!
Estou orgulhosa de você, como vc está crescendo intelectualmente e como seus artigos estão cada vez melhores!!!
História Regional é muito importante, e uma ótima representatividade é o caipira que supõem a pequena propriedade se contrapondo a civilização que representa o capitalismo industrial; como explicou o professor Paulo na palestra da semana de história, lembra? Tudo haver com o tema. Se critica o caipira porque sua imagem reflete a importância da reforma agrária e da pequena propriedade rural, para assim construir um senso comum na sociedade que enalteça a propriedade latifundiaria e o capitalismo industrial!!! porcos capitalistas!!
E viva o caipira!! simbólo da nossa verdadeira cultura!!
Bjusss
=***