sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Do Berrante ao Celular


“Nossa viagem não é ligeira, ninguém tem pressa de chegar.
A nossa estrada é boiadeira, não interessa onde vai dar.”
(Comitiva Esperança – Almir Sater)


Quando indagamos sobre nossa própria cultura, percebemos que somos norteados também por um conjunto de tradições enraizadas no cotidiano. Pode-se dizer que, estas tradições estão presentes na arte, nas crenças, nas lendas, nas festas e, de certa forma, nas idéias. Forma-se, portanto, o que chamamos de folclore (folk = povo, lore = sabedoria), transferido de geração em geração. Entretanto, algumas manifestações desta “sabedoria popular” articulam-se ao ambiente tecnológico atual e, muitas vezes, podem perder sua originalidade.
Em nossa região sertaneja, existem alguns hábitos e objetos interessantes a serem estudados, para o entendimento de nossa cultura. Por exemplo: o berrante. É um instrumento de sopro, de difícil execução, tocado pelos peões nas antigas comitivas, transportadoras de boiadas. Segundo relatos, o berrante surgiu há três séculos atrás, época do início do tropeirismo, e era feito do chifre do boi “pedreiro”, cujos chifres podiam chegar a um metro e meio de comprimento. Posteriormente, os berrantes eram constituídos com anéis de prata e suas bocas mediam até quarenta centímetros.
Entre as funções do berrante, cada toque emitido pelo peão é entendido como uma senha, onde é avisada a hora do almoço, o toque de recolher, o toque de perigo e até mesmo é usado como orientação para o “sinueiro” (boi que comanda a boiada). São cinco os principais toques, “saída ou solta”: para despertar a boiada de manhã – toque sereno; “ estradão”: reanimar a boiada na estrada – toque repicado; “rebatedouro”: aviso de perigo – semelhante ao toque de clarim; “queima-do-alho”: hora do almoço; “floreia”: toque livre, poder ser uma música para diversão.
Portanto, verifica-se que o berrante é um meio de comunicação entre os peões, utilizado há muito tempo e compositor dos costumes sertanejos. Pode-se, então, associar o berrante ao aparelho celular, trazido pela atual tecnologia, e considerado um útil veículo de comunicação. Contudo, a nossa expectativa é que se preserve o berrante como o integrante primordial entre as atividades dos peões, a fim de não se perder as manifestações da tão complexa cultura caipira.


REFERÊNCIAS:
www.solbrilhando.com.br
www.osindependentes.com.br
AGRADEÇO AO "MAESTRO FRANCO PIERRE", UM APAIXONADO PELA CULTURA CAIPIRA, PELAS CONVERSAS TROCADAS E INFORMAÇÕES DADAS SOBRE O TEMA DO ARTIGO: BERRANTE.
ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL ''O DIÁRIO'' (BARRETOS/SP), EM 08 DE AGOSTO DE 2008.

Um comentário:

Priscila Trucullo disse...

E você ainda me disse que havia ficado ruim? Oras é bem a sua cara mesmo... só não gostei muito da associação com o celular, você só colocou pra dar lugar ao título? Explica isso direito!