sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Ressonância

É bem verdade que a convivência entre os diversos povos do planeta produz o contato casual ou intencional entre eles. Foi desta forma que os portugueses encontraram os nativos da América e o choque entre as respectivas culturas sintetizou, de início, um notável estranhamento. Em seguida, os costumes de um povo e de outro se tornaram próximos e a pluralidade cultural assentou-se na formação da sociedade.
Não diferente, este quadro pode ser visto na nossa realidade, em nossa cidade, posto que, parte-se da premissa que a sociedade barretense também foi concretizada por uma fusão de culturas. Por isso, o conjunto dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições e de outros valores morais e materiais foram articulados de acordo com tal associação. Nesse sentido, as imigrações italiana, alemã, austríaca, africana, árabe e japonesa podem ser relacionadas com a população sertaneja barretense, devido à união das culturas.
Neste contexto, Ruy Menezes descreveu a “paisagem humana de Barretos”, do início do século XX, como uma caboclada dominante, “de cor morena, pálida, olhos oblíquos, lembrando suas origens indígenas, miúda, de barbinha rala e nem sempre bem vestida”. Com efeito, o indivíduo sertanejo mantinha esta aparência e, além disso, costumava trabalhar de forma fundamentada na experiência vivida, ou seja, sem técnicas especializadas.
Em meio disto, a imigração italiana colaborou, entre muitos feitos, com o aprimoramento de certas técnicas profissionais. A partir de então, desenvolveram-se os ofícios de sapateiro, alfaiate, pedreiro, artesão e outros. Nota-se, também, a forte influência imigratória na arquitetura, desde os grandes palacetes e igrejas até as pequenas casas. No setor comerciário, os árabes tiveram seu destaque, já que acabaram por reformular estruturalmente o comércio da cidade.
Portanto, é válido salientar todas estas influências culturais recebidas pelas imigrações, pois, elas se tornaram novos costumes e hábitos para a formação da sociedade. Do mesmo modo, percebe-se a resistência da cultura sertaneja, caipira, que também influenciou as demais. Caso contrário, nós não manteríamos a língua e nem certas canções que demonstram a nossa realidade. Por assim dizer, a relação social mútua dos povos é semelhante a um sistema de ressonância, pois a cultura de um povo vibra como resposta aos impulsos recebidos da cultura de outro povo.


REFERÊNCIA:
MENEZES, Ruy. Espiral – História e desenvolvimento cultural de Barretos. 1985.

Um comentário:

Priscila Trucullo disse...

Utilizou o termo certo a se referir à RESISTÊNCIA sertaneja. Resistência a uma cultura alheia, uma cultura trazida pelos europeus e assimilada por nós, presente nos palacetes de arquitetura européia, tido como modelo na nossa sociedade, não só em barretos, mas em nosso país. Seria a cultura também uma imposição ou apenas assimilação?