sexta-feira, 9 de outubro de 2009

CRIME NAS LINHAS DE “O SERTANEJO”

Barretos já foi cenário de turbulentas agitações populares por conta de assustadores crimes que aconteciam no final do século XIX e início do século XX, em pleno início da população barretense, onde eram muito comuns as migrações de pessoas vindos dos lugares mais diversos do país. Para alguns estudiosos da história de Barretos de épocas passadas, este tipo de comportamento era considerado como “falta de civilidade”, mas hoje sabemos que estas atitudes eram efetivadas em razão de vários fatores que vão desde o sistema policial até a questão da mentalidade da época tão influenciada pelos antigos costumes violentos do Brasil Colonial.
Um destes crimes chamou deveras a atenção da população barretense no ano de 1900 e, foi tamanha a agitação popular, que tal crime mereceu uma edição especial do jornal “O Sertanejo” do dia 15 de outubro de 1900. Nessa edição, que neste mês comemora 109 anos de publicação, o boletim especial assustadoramente exaltava: “Crimes espantosos: bigamia ,desonra, infanticídio e parricídio”. Foram levantadas todas as dúvidas que rondavam o caso do desaparecimento e assassinato do lavrador José Roza do Nascimento, conhecido como Juca Branco, morto a tiro de espingarda pelo seu próprio filho Pedro Roza do Nascimento de 18 anos, menor na época.
Foram muitos os motivos do crime e giravam em torno dos abusos que o pai cometia sob suas filhas, enteadas e ex-esposas. De acordo com a perícia executada no local do crime pelo Cel. Almeida Pinto e outros, os jornalistas anunciaram o contexto que levou o filho a matar seu próprio pai, taxado pela população como “monstro”. Os peritos encontraram três esqueletos de crianças embaixo do solo da casa, alguns outros a seu redor, e então entenderam que o finado violentava seus filhos e enteados e depois os matavam. Pedro, então, assassinou seu pai em defesa de sua irmã, de 14 anos, que estava prestes a ser violentada em seu quarto. O mais interessante de toda esta história foi a imagem encontrada debaixo da caixa de arroz, tratava-se de uma figura de Santo Antônio sem a cabeça! Seria somente superstição?
O inquérito policial terminou com a agitação da população pela absolvição de Pedro, que foi julgado e absolvido com voto de Minerva e intervenção do juiz de Direito Joaquim Fernando de Barros, sendo o advogado de defesa o Cel. Almeida Pinto. Entretanto, passado algum tempo, Pedro voltou para casa e foi picado por uma cobra justamente no local onde havia enterrado seu pai. Coincidência? É o que os escritores de “O Sertanejo” indagaram e o que nós, 109 anos depois, ainda podemos pensar. Vale a pena ler mais sobre este caso, que envolve criminalidade, superstição, participação popular, polêmica e história!

REFERÊNCIA: ROCHA, Osório. Barretos de Outrora. 1954 – p. 89 e 90.
Jornal “O Sertanejo” de 1900 a 1902 (Acervo Museu “Ruy Menezes”).

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 02 DE OUTUBRO DE 2009.

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