terça-feira, 3 de novembro de 2009

O NACIONALISMO DE OUTRORA... E AGORA?

No tempo presente, o Brasil tenta buscar o significado de sua identidade nacional ao indagar os elementos que caracterizam a origem cultural dos diversos povos que habitam sua tamanha extensão. Durante o final do século XIX e o decorrer do século XX vários intelectuais atentaram-se a questão da identidade cultural do Brasil, bem como elaboraram projetos de nação com a necessidade de aparentar “união” perante a República brasileira. Entretanto, percebe-se que o sentimento de nacionalismo, outrora praticamente “outorgado” nos indivíduos brasileiros através de manifestações cívicas, agora passa por uma carência incessante.
No início do século XX o sentimento patriótico tomou conta das discussões intelectuais através do estímulo imperialista europeu, e uma das formas de expressão de patriotismo foi à obrigatoriedade do alistamento militar apresentado por Olavo Bilac na década de 10. Na primeira fase da República entraram em cena algumas idéias separatistas entre os estados brasileiros, por isso, era necessário desenvolver o ideal de um Brasil como pátria de todos, isto é, um sentimento de nação. É claro que o meio mais hábil de transformação social é a “escola”, por isso, foram elaborados livros-didáticos que exaltavam um Brasil rodeado de grandes heróis nacionais, com um passado harmonioso e único, confiante em seus chefes políticos e recebedor de glórias militares. Este imaginário patriótico das escolas republicanas acabou por caracterizar o futuro “nacionalismo de direita” da Era Vargas e Ditadura Militar pós-1964, o que significa a criação de um nacionalismo exacerbado, coercivo e tão defensor da idéia de união, que, evitava a importância das diferenças regionais, sociais e culturais do país.
Todavia, a partir da segunda metade do século XX e início do século XXI, o nacionalismo acabou por se neutralizar com a vinda do mundo globalizado, onde a nacionalização de qualquer setor governamental, como a economia, foi, e ainda é, considerada uma espécie de “bloqueio” dos projetos capitalistas. Desta forma, os livros-didáticos de História dos anos 60 em diante passaram a justificar os problemas internos do Brasil sob a ótica das relações do país com o mundo. Essa situação ocasionou a deficiência do ensino de História do Brasil, já que não situou devidamente os problemas nacionais e impediu a construção da identidade nacional.
Diante dessas colocações percebe-se a extrema transformação da ideia de nacionalismo, outrora exacerbado e agora carente, deficiente, neutro. A carência de patriotismo no Brasil atual encontra-se, sobretudo, na diluição dos conteúdos do ensino de História do Brasil, pois é nesta ocasião que construímos, não a ideia de pátria única e perfeita, e sim a noção de identidade nacional voltada à caracterização de uma terra miscigenada por diferenças regionais e sócio-culturais. Por fim, a intenção dos historiadores e educadores humanísticos é desafiar a globalização “sem fronteiras” e refletir sobre as questões do próprio país com os próprios brasileiros.

REFERÊNCIA: BITTENCOURT, Circe. “Identidade nacional e Ensino de História do Brasil”.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 23 DE OUTUBRO DE 2008.

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