segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A JOVEM REPÚBLICA, LÁ E CÁ (II)



Leitores, continuemos a refletir um pouco mais sobre a Proclamação da República no Brasil, um momento interessantíssimo da nossa História. Depois de entender um pouco sobre a transição do Império para a República, percebemos que a movimentação política aconteceu somente com a classe dominante do país e que os políticos portadores do poder no Império continuaram a exercer seus cargos na era republicana. Oras, e o povo? Como assistiu esta passagem histórica?
Nas palavras de Aristides Lobo, político da época, o povo assistiu a Proclamação da República “bestializado”. Esta expressão, tão instigante, leva-nos a entender a legitimidade da República pela indiferença, ignorância, apatia das camadas populares, onde somente os “homens letrados” entenderam o que acontecia em 1889. Para o povo, que diferença fazia ser o Brasil um Império ou uma República? Os representantes políticos mudariam suas baixas condições de vida? (Permitam-me fazer um parentêse: esta situação assemelha-se também com os dias de hoje, onde muitas vezes entra um novo partido no governo e nada muda na política brasileira).
Pois bem, o “problema” do povo apareceu depois da Proclamação da República, onde era necessário conquistar o imaginário popular à adesão da jovem República. Isto posto, para compensar a falta do envolvimento popular na Proclamação, os políticos, principalmente os positivistas (idealizadores de uma sociedade linear e progressista na República), criaram uma simbologia republicana, que tinha nos “mitos” sua principal fonte para alcançar o imaginário social.
Os símbolos destacados neste período foram a alegoria feminina da República, o herói nacional vestido na figura de Tiradentes, a bandeira e o hino nacional. A República na figura de uma mulher, denominada Marianne (inspiração de um nome comum de mulher na França), representava a queda da imagem masculina do rei e a seqüente “era” de liberdade. O herói nacional Tiradentes, possuía de fato a “cara do povo”, um sofredor da história das lutas nacionalistas do Brasil e sua figura propositalmente passou a assemelhar-se com o rosto de Jesus Cristo. A bandeira e o hino nacional, por fim, exprimiam “bravamente” os ideais positivistas de ordem e progresso, de uma nação em “estágio superior”: a República.
O problema maior deste quadro cultural foi a falta de identidade autenticamente brasileira na instalação da República, devido a forte influência dos ideais franceses, mas isso já é outro assunto... Veremos na próxima semana, portanto, a República cá... em Barretos!

REFERÊNCIA: CARVALHO, J.M. A formação das almas: o imaginário da República no Brasil. 1990.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 13 DE NOVEMBRO DE 2009.

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