quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

BARRETOS NA ARTE E NA GUERRA

 
O recente filme em lançamento “Tempos de Paz”, encenado pelos brilhantes artistas Tony Ramos e Dan Stulbach, fascina os olhos e as emoções diante a história de um imigrante polonês deslocado para o Brasil no ano de 1945, em pleno fim da Segunda Grande Guerra Mundial. O polonês, vivido por Stulbach, vem para o Brasil com a justificativa de trabalhar na lavoura, entretanto, é surpreendido pelo destino quando suas próprias lembranças da guerra o fazem reviver sua antiga profissão: o teatro! É através da mágica do teatro que o imigrante consegue ficar no Brasil e emocionar até mesmo um rígido funcionário do Estado getulista, Tony Ramos.
O fato é que, durante a trajetória do filme, o polonês indaga o tempo todo sobre a importância do teatro naquele período tão devastador culturalmente: “para que serve o teatro em meio à guerra?”. Bem, isso nos faz lembrar de Barretos na década de 40... quais manifestações artísticas aconteciam neste momento tão desgastante na Europa? Enquanto Bezerrinha e mais outros 16 combatentes barretenses da Guerra lutavam junto ao Exército brasileiro na Itália facista e alguns imigrantes chegavam ao Brasil, Barretos era referência de belos teatros e exibições de clássicos do cinema norte-americano.
Desde o início da década de 30, o Theatro Santo Antônio, antigo Theatro e Cine Éden, localizado na esquina da rua 20 com a avenida 17, ilustrava os mais atrativos panfletos que hoje são acervo documental do Museu “Ruy Menezes”. Em 1935 era anunciado o clássico “O Vingador” com o famoso e admirado cow-boy “Buch Jones”.
Já na década de 40, devidamente equipados com ar-condicionado, o Cine Santo Antônio e o Cine-Barretos traziam à população os filmes mais requisitados da época. Em 1944, ano em que os barretenses estavam na guerra, o Cine Santo Antonio exibia, entre muitos outros, clássicos como: “Vendaval de Paixões” com o inesquecível John Wayne; “Minha namorada favorita” com Rita Haywort e “Minha secretaria brasileira” com a fantástica Carmem Miranda, Betty Grable, John Payne e Cezar Romero. O Cine-Barretos apresentava como primeira atração em dezembro de 1946 o romance “Amar foi minha ruína” e, tempos depois, o temível “Os Inocentes” com a linda Deborah Kerr junto a Peter Wyngarde e Megs Jenkings. Sendo que, alguns destes clássicos estão disponíveis, em versões americanas, na internet (www.youtube.com).
Entre estas poucas demonstrações já percebemos o quão o teatro e o cinema foram fatores motivadores de “cultura” em muitos cantos do mundo, a ressaltar nossa cidade. E quando o polonês caracterizado pelo filme indaga o futuro do teatro em meio a guerra, só podemos voltar nossos pensamentos a essência de toda a arte emanada pelos artistas da época, que mesmo em Barretos, até hoje causa nostalgia e saudades. Reminiscências.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 08 DE JANEIRO DE 2010.


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