quarta-feira, 17 de junho de 2020

AOS JERÔNIMOS

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 9 DE JUNHO DE 2020 
(página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS 

           
Fonte: Revista "O Malho", Rio de Janeiro/RJ,
30/3/1912, p. 25, ed. 498 -
Arquivo da Biblioteca Nacional.
Desde a covarde morte do negro americano George Floyd pela polícia, em 25 de maio, ocorrida em Minneapolis (Minnesota), manifestações antirracistas e pacifistas ocorrem pelo mundo inteiro - física ou virtualmente. Posts, vídeos e hashtags como #vidasnegrasimportam e #blackouttuesday manifestaram apoio ao antirracismo dando voz às pessoas negras, para que suas próprias experiências protagonizassem a verdadeira “cara” do racismo, da violência, da segregação e da discriminação.
            Trazendo essa realidade à história da cidade, me lembrei de uma fotografia que há pouco tempo encontrei na hemeroteca digital da Biblioteca Nacional, na revista carioca “O Malho” (edição 498 de 30/3/1912). Resolvi, então, publicá-la em minha página do facebook, onde a repercussão foi muito positiva. Muitos barretenses se encantaram com a imagem do “preto Jerônimo” no bairro “Outro Mundo”.
            É a imagem de um negro, Jerônimo, que vivia em Barretos, e por mais “invisível” que fosse à população da época, bem como à História, foi eternizado na revista por sua generosidade. A legenda da foto dizia: “O preto Jeronymo, que socorreu a população pobre e rica de Barretos [S. Paulo] no largo período da seca completa do manancial que abastecia a cidade. Com grande trabalho lá ia o benemérito Jeronymo arranjar o precioso líquido que distribuía, sempre de cara alegre e cobrando, dos que podiam pagar, apenas o serviço do transporte. À falta de estatua, merece esta consagração o risonho preto. (Original remetido pelo Dr. Raymundo Dias)”.
            Jerônimo é somente um exemplo de personagem negro da história de Barretos. Junto com ele vem a resistência, a produção e todo o horizonte que a população negra ofereceu à cidade. Pela intermediação do médico Mariano Dias, Jerônimo foi celebrizado pela revista “O Malho”, e, mais de cem anos depois, nos serve como ícone para ilustrar este momento tão importante onde as vozes negras precisam ocupar todos os espaços; a começar pela História. Que essa se faça com (e por) mais Jerônimos.

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