quinta-feira, 4 de junho de 2020

HISTORIADORES E SEUS LEITORES

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 27 DE MAIO DE 2020 
(página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS 

            Giovanni Levi, célebre historiador italiano, certa vez dissertou sobre a atividade do historiador nos tempos de hoje. Com uma narrativa simples e prática, atentou para as três fases do trabalho do historiador: pesquisar, resumir e comunicar. De todas, a “comunicação” tem sido o grande desafio dos historiadores nos últimos tempos; a difícil arte de sintetizar longas pesquisas em uma linguagem atraente, que seduza os olhos curiosos das pessoas, mas sem perder a essência da produção científica.
            A História em si, enquanto assunto, é algo extremamente atraente. As pessoas, no geral, gostam de ler e ouvir sobre o passado, guerras, personagens, comportamentos, cultura, revoluções e assim por diante. No entanto, o público pouco se atenta ao fato da História ser uma ciência, e por isso ser construída com base em dados, fontes e conceitos longamente descritos e analisados. No geral, historiadores escrevem livros enormes, dotados de notas de pé e citações fartas. A História não é produzida para agradar, é uma ferramenta de reflexão e crítica. Mas, isso não significa que ela precisa ser restrita, desfrutada somente por acadêmicos. Historiadores escreveriam para eles mesmos? Uma corporação? É preciso pensar melhor no leitor. Formar leitores.
            Atualmente, alguns dos livros vendidos sobre “História” são aqueles escritos por jornalistas, pesquisadores ou curiosos. Geralmente, são obras com assuntos interessantes, mas sem os rigores científicos dos historiadores – aqueles necessários para se discutir certos conceitos, e que sem isso corre-se o risco de anacronismos e generalizações. Desta forma, o historiador contemporâneo encara o desafio de manter-se firme em suas produções científicas, mas ousar-se em pegar emprestado da Literatura uma narrativa sensível (até apetecível), apesar de fiel.
            E isso não é impossível. Haja vista a “pena” leve (e certeira) com que escreve o historiador italiano Carlo Ginzburg, um exemplo de narrador da micro-história. Alguém fiel à ciência e ao leitor. Uma inspiração. (Fica a dica).

Fonte:
LEVI, Giovanni. O trabalho do historiador: pesquisar, resumir e comunicar. Revista Tempo, 2014. Disponível em scielo.

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