sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

AS DIFERENTES FAMÍLIAS NO SÉCULO XIX




A partir dos anos 80 a nova historiografia trouxe, entre muitos temas, os estudos regionais sobre famílias e casamentos. Por muito tempo, a história oficial registrou que os núcleos familiares do Brasil colonial e imperial eram sobretudo “patriarcais”, ou seja, tinham na figura do homem o papel central das decisões e atitudes. De fato, o patriarcalismo existiu e foi desenvolvido no Brasil por conta dos costumes portugueses. Mas, há de se ressaltar as peculiaridades das regiões do país e considerar também os núcleos domiciliares chefiados por mulheres solitárias, solteiras ou viúvas.
O século XIX é um bom referencial para entendermos melhor estes casos, pois na nossa região do nordeste de SP estava acontecendo as migrações mineiras em busca de posses de terras paulistas. Nesse sentido, pode-se perceber que os fatores que ocasionaram o chefiamento feminino em algumas famílias eram a viuvez ou a simples ausência do marido, principalmente na região de Minas Gerais, onde as mulheres nem sempre vinham com os homens para tais terras e acabavam por ficar sem seus maridos - os entrantes mineiros.
Além disso, havia também as mulheres solteiras ou aquelas que viviam na ilegitimidade com os homens. Isso acontecia muitas vezes, porque no período do Império a Igreja Católica mantinha o sistema de “Padroado” com o governo, e isso fazia com que somente os casamentos regidos pelas leis religiosas fossem válidos. Ainda mais, havia uma considerável burocratização no processo de matrimônio, tais como as longas distâncias das Igrejas, falta de estradas, alto custo e extrema pobreza da maioria da população. Essa situação modificou-se com o passar dos anos no início da República, onde passou a ser oficial o “casamento civil” e não mais o religioso.
Em Barretos, no século XIX, verifica-se que tantos as mulheres quanto os homens quando ficavam viúvos casavam-se novamente várias vezes, sendo muito comum o casamento entre os próprios familiares. O exemplo mais comum é o de Mariana Librina, filha do fundador Simão Antônio Marques, que casou-se três vezes: primeiro com seu primo José Simão Marques, depois com José Francisco Barreto (filho de Chico Barreto) e por último com o sobrinho de seu segundo marido, João Francisco Rosa. Este cenário de tantos casamentos em Barretos pode gerar várias interpretações, como por exemplo a exigência de um núcleo familiar composto de pai, mãe e filhos para a vida do trabalho rural desta época; diferente da vida urbana, na qual possibilitava o chefiamento familiar pelas mulheres.
São muito importantes os estudos sobre as famílias e os casamentos, e mais ainda as considerações que podemos tirar deles. Unindo as fontes históricas que os nossos antepassados nos deixaram, podemos reconstituir a vida cotidiana, as dificuldades e até as emoções que eles sentiam. Preservem as fontes históricas, elas são valiosíssimas!

REFERÊNCIAS:
ROCHA, Osório. Barretos de Outrora. 1954.
ALVES, Romilda Oliveira. “A constituição da família no Brasil: um debate historiográfico na perspectiva da demográfica histórica”.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 13 DE FEVEREIRO DE 2009.

2 comentários:

Decio Medeiros disse...

Jose Francisco Barreto (filho de Francisco Jose Barreto) casou-se em 1854 na Matriz de Jaboticabal com Mariana Candida da Conceicao viuva de Jose Antonio Marques.

Decio Medeiros disse...

Estou em busca dos registros paroquiais de batismo dos moradores do arraial de Barretos antes de 1877. Já verifiquei que nao estao registrados nos livros da Matriz de Jaboticabal. Agradeço quem tiver informacoes a este respeito.