sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

A DESELEGÂNCIA DO NARCISISMO




Muito se tem falado sobre a preservação de patrimônios históricos na atualidade, os historiadores cada vez mais defendem as políticas públicas pautadas neste assunto e criam novas metodologias para disseminar a importância dos patrimônios à sociedade. Entretanto, a maioria dos municípios brasileiros, destacadamente os paulistas, caminham para o descaso de sua própria história e de seus patrimônios em nome da “modernização” capitalista comercial. Eis então que surgem as dúvidas: porque as pessoas contribuem com a destruição de seu patrimônio histórico? Porque ficam caladas e não reagem?
Bem, a música “Sampa” do célebre Caetano Veloso é uma excelente referência para entendermos este processo de destruição do patrimônio histórico. A reflexão que se extraí da música é a de um homem que ficou algum tempo fora de sua cidade, no caso São Paulo, e quando voltou ele diz: “é que quando cheguei por aqui eu nada entendi”; pois a arquitetura, as pessoas, as cores, os costumes haviam mudado para algo “novo”, diferente, do que ele conhecia.
Tratando-se em especial da categoria “prédios arquitetônicos históricos”, podemos interpretar a seguinte frase como uma justificativa da eliminação do patrimônio histórico : “É que Narciso acha feio o que não é espelho”. Pois bem, sabemos que Narciso é um personagem grego que tem um amor excessivo a sua própria pessoa, em particular ao seu físico. Então, imaginemos que os prédios antigos não refletem a imagem do que vivemos hoje, não é o nosso espelho, por isso algumas pessoas acham que são “feios” ou “ultrapassados” e permitem a sua destruição. Ou seja, da mesma maneira que um indivíduo mais velho não se identifica com um prédio atual, o indivíduo mais novo não permite a preservação dos prédios antigos.
Nesse sentido, estas pessoas permanecem na condição de “narcisistas” quando se calam com o descaso de nossa história, já que infelizmente não entendem que ela serve como um meio de contato com o passado de nossas famílias e como fonte essencial para a identidade cultural da cidade. Em Barretos cresce cada vez mais o derrubamento de prédios antigos, sendo que eles poderiam ser utilizados como atrativos turísticos organizados como centros de cultura. Além do mais, o turismo histórico incentiva vários setores profissionais a acelerar a economia da cidade, onde, por exemplo, desde a “Dona Maria” que vende cocada na esquina até o proprietário do prédio desfrutam de vantagens.
Portanto, não é sendo narcisista que se consegue entender e preservar a história da cidade! Cabe ao poder público incentivar a conservação do patrimônio e estudar sobre a melhora da economia no setor turístico, já que dá tão certo nas cidades históricas. Em última reflexão, como a história mesmo nos mostra e Caetano Veloso bem disse na música: “... da força da grana que ergue e destrói coisas belas”.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 20 DE FEVEREIRO DE 2009.

Um comentário:

pedro meinberg disse...

olá.
desses três últimos textos eu faço um comentário geral:
que bom saber que há pessoas (e jovens!) que lutam pela preservação da história da nossa cidade. você poderia se preocupar somente com a história da cidade que voce faz faculdade... mas não.
mesmo assim, infelizmente, barretos carece muito de cultura e espírito crítico. eu tenho algumas idéias a estudar ou pelo menos denunciar (de uma maneira que não sei bem ainda) algumas sacanagens dessa cidade, dentro dos estudos da minha área...
e desacredito: nossos governantes dificilmente darão a importancia que exigimos aos prédios históricos! o que importa aqui, voce sabe, é a festa do peão e a tentativa de imitar o mundinho enlatado country americano, e ganhar o máximo de dinheiro com isso.
e só. conte-nos mais sobre nosso passado e nos proponha mais reflexões para o presente!! se nós não fizermos isso, quem fará? os independentes e a tv barretos? acho que eles tem outras preocupações...