ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 13 DE MAIO DE 2011
Nesta sexta-feira 13 o enfoque não deve ser nada supersticioso, a história deve prevalecer como a temática do dia.
Treze de maio é o dia de comemoração à abolição da escravatura no Brasil, data em que no ano de 1888 a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea que justificou a desvinculação do negro à condição de escravo. Na escola, esta data é lembrada por muitos professores de história como um marco na história do Brasil e para a cultura afro brasileira e africana. Datas como estas, na atualidade, são comemoradas com a intenção de valorizar a cultura africana em vez de rememorar a época da escravidão. Por esse e outros motivos, proponho um 13 de maio diferente, no qual possamos vivenciar experiências de africanos que mostraram ao mundo o valor de seu continente e de sua cultura.
Africanos como a nigeriana Chimamanda Adichie, escritora de romances que comoveu um grande público numa palestra em que prestou depoimento sobre sua vida na África e a cultura na qual foi criada. Esta palestra foi gravada e circula em vídeos na internet com grande sucesso. Chimamanda intitulou a palestra de “o perigo de uma história única”, isto é, como uma única visão da realidade pode a deixar deturpada e carregada de preconceitos. A experiência da nigeriana causa forte impacto a quem ouve, pois é visto como nós podemos ser causadores de preconceitos e ao mesmo tempo sofredores com o mesmo preconceito.
Chimamanda nasceu e cresceu na Nigéria numa família de classe média, contou que desde muito cedo aprendeu a ler e a escrever. Passou sua infância lendo livros infantis de autores ingleses, de personagens ingleses, ou seja, brancos, de cabelos lisos e loiros, que brincavam na neve e falavam muito sobre o clima. Algo bem diferente da realidade africana. O fato é que de tanto ler e adorar estes livros ela entendia que pessoas como ela, negros e de cabelos crespos, não poderiam fazer parte da literatura. No entanto, quando ela descobriu os autores africanos que escreviam livros sobre os próprios africanos, sua visão de que os livros só poderiam reproduzir a visão de uma história única começou a ser questionada.
Ainda mais, Chimamanda conta sua experiência de aos 19 anos ter ido para os EUA cursar a faculdade. Neste momento, o choque cultural foi muito grande, já que sua amiga de quarto dizia ter esperado uma africana que falasse línguas tribais e ouvisse músicas também tribais. O espanto foi grande quando a nigeriana explicou que no seu país o inglês era a língua oficial e que suas canções preferidas eram a de Maraya Carey.
Enfim, o perigo de se sempre contar e ouvir a história única cria esteriótipos a pessoas e a lugares que na verdade nos deixam cegos quanto à verdade. Julgar a realidade do outro de acordo com a sua realidade é algo dessincronizado e nos deixam sujeitos a cair no marasmo do pré-conceito. Que neste 13 de maio, portanto, possamos conhecer melhor a alma da cultura africana, que, assim como nós, em relação ao olhar da história única, precisa ser resgatada e colocada no seu verdadeiro lugar: nos livros.
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