ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 6 DE MAIO DE 2011
Leitor amigo, o que é na sua concepção um documento histórico? Quais são os tipos de fontes que um historiador utiliza como trabalho? Trabalhar com uma fonte de estudo que remete a determinado período passado da humanidade sempre foi o ofício do historiador, mas o conceito sobre o que é documento histórico é relativo a cada época e a cada escola histórica. Documento seria somente aquilo que é produzido pela classe política dominante ou tudo aquilo que foi produzido por diversos grupos sociais?
Desde fins do século XVIII e início do XIX, a história se assumiu como acadêmica, isto é, disseminada em pesquisas e em faculdades, e, como tal, seguiu instruções de cada período e contexto histórico. A partir de então, surgiram as escolas históricas, que assumiram características diferenciadas sobre a concepção do que é história e sua fonte de estudo, são elas: a Escola Positivista, a Escola Metódica, a Escola dos Annales e suas diversas gerações e o Pós-Modernismo.
Para os positivistas do século XIX, o documento histórico era tudo aquilo que foi escrito pelos reis, os documentos oficiais, exemplos de escritos sobre mitologia indígena, por exemplo, eram descartados. Tempos depois, com o advento dos metódicos, o documento oficial, aquele produzido pelo Estado, era a fonte de estudo do historiador desde que seguisse uma seleção, classificação e método de estudo. A partir da terceira década do século XX, a Escola dos Annales surge em contraposição aos temas e as noções de documento histórico defendida pelos positivistas e metódicos.
Os historiadores dos Annales, associados à interdisciplinaridade da História, diversificaram completamente seus temas, bem como a tipologia de suas fontes. Para eles, o estudo da história deveria ser pautado em experiências dos vários grupos humanos, e, com isso, tudo aquilo que foi produzido por eles seria passível de análise histórica. É neste momento que surge como documento histórico, não só aquilo que era escrito pelo Estado, e sim a oralidade, a imagem, as séries de documentos de batismos, casamentos e óbitos.
Com as seguintes gerações dos Annales, esses grupos sociais estudados pela história foram se ramificando cada vez mais até se chegar numa história quase que do “sujeito”, do individual. Nesse sentido, houve um alargamento das noções de fontes históricas, como mapas, gravuras, desenhos, cartas, roupas, alimentos e outros. O importante de ressaltar sobre isso, é que alguns historiadores chamam essa fase de “vulgarização da história”, como se qualquer coisa que se remete ao passado fosse passível de análise histórica. Noções como essa deram base para o surgimento do pós-modernismo, movimento que encara a análise e a fonte histórica como relativa ao olhar do historiador do presente. Sendo que, na realidade, as fontes só são consideradas históricas quando são encaixadas no contexto e na estrutura do tempo determinado.
Enfim quantas faces tiveram um documento ao longo da história da história? Como será encarada uma fonte histórica no futuro? Tudo isso nos leva a crer que “um documento é tudo aquilo que um determinado momento decidir que é um documento”.
REFERÊNCIA: Texto de Leandro Karnal e Flávia Gali Tatshc (2009).
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