quarta-feira, 22 de maio de 2019

O MEMORIALISMO DE VAF (PARTE II)

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 14 DE MAIO DE 2019 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS

           Memorialista no sentido de escrever sobre “história” e “passado”, Virgílio Alves Ferreira (1880-1966) elencava na coluna “Ecos do Passado”, no jornal “A Semana”, assuntos de diversos teores. Inclusive, sobre situações do presente (especialmente as décadas de 1930 a 1950), mas sempre retomando ao passado para nelas chegar. Fazia uma ponte entre passado e presente em quase todos seus textos, todavia, sempre considerando o pretérito como o tempo do bem e da harmonia. Um saudosismo literário.
            Versado na erudição e baseando-se em clássicas leituras, Vaf, como assinava no jornal, tecia verdadeiras narrativas literárias para expor suas opiniões. Em pelo menos 24 textos da coluna “Ecos do Passado”, na maioria, fica evidente que para se chegar a uma conclusão, o articulista se manifestava através de contos e ensaios criados por ele.
            Em 1947, por exemplo, para criticar certos comportamentos da “mulher sabida demais” (avanços sociais femininos), ele criou um conto denominado “Rosa”. Neste, ele enaltecia os tempos em que a mulher se dedicava mais à maternidade, a delicadeza e ao lar. Assim como fez em outra narrativa literária sobre uma figueira selvagem para falar sobre o pecado da inveja. Aliás, assuntos sobre moralidade e religião eram recorrentes em seus textos: ingratidão, egoísmo, velhice, inveja, morte e obediência.
            Personagens da história do Brasil, como Dom Pedro II e Duque de Caxias eram sempre valorizados por ele. Temas sobre a economia (carestia, custo de vida e liberalismo empresarial), problemas sociais (período de seca e trabalhadores do campo) e política (republicanismo paulista) também se movimentavam em suas narrações. Além disso, fazia questão de registrar a história das cidades em que ele viajava, como Araxá, Uberaba, Belo Horizonte, Igarapava (cidade natal) e Serra Negra.   
            Assim, a denominação de sua coluna “Ecos do passado” justifica a forma pela qual Vaf trata este “passado”, não como mera recordação, mas como reflexo e algo que devia ser ressoado. Para ele, é no passado que se permaneceu a glória. [fim].

Fontes e referências bibliográficas:
ROCHA, Osório. Barretos de Outrora. Revista Editora dos Tribunais, São Paulo: 1954, p. 202.
MENEZES, Ruy. Espiral: história do desenvolvimento cultural de Barretos. INTEC, Barretos: 1985, p. 122-124.
A SEMANA, jornal de Barretos entre os anos de 1940 a 1953. Edições 832, 834, 836, 838, 840, 841, 1394, 1387, 1403, 1424, 1427, 1443, 1447, 1461, 1974, 1961, 1964, 1969, 1977. Arquivo do Museu "Ruy Menezes".
CORREIO DE BARRETOS, jornal de Barretos, edição de 30/1/1944, p.1.

Link da publicação no site do jornal "O Diário":

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