ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 17 DE DEZEMBRO DE 2019 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS
Eu com o autor da obra "Tempo Bom em Alpondras", Marcos Diamantino, na sede da Academia Barretense de Cultura. |
No romance “Tempo Bom em Alpondras”,
de narrativa sútil, o autor descreve cenários, personagens e situações de fácil
imaginação. O ponto crucial, porém, é a reflexão subjetiva a ser construída. O
local da trama é a “pacata” cidade de Alpondras, onde o escritor materializa
panoramas clássicos como ruas, casas, comércios, clubes, instituições, rios e
fazendas. Ali residem as personagens que são descritas em suas personalidades e
com nomes um tanto excêntricos. O fato é que cada personagem representa um
perfil social interessante, cabível no contexto atual, e, conforme o
desenrolar, temas importantes e contemporâneos pululam em nossa mente: internet,
redes sociais, fake news, discursos de ódio, intolerância, violência,
impunidade, identidade. A leitura nos leva à análise sobre nossos próprios
comportamentos. Fato.
Diante o assassinato de três
pessoas, o jornalismo investigativo e a soltura de comentários vazios nas redes
sociais, o narrador cria perfeitas condições de reflexão, de realidade. Além da
própria escrita te transportar a contextos diferentes, uma vez que o discurso
do narrador, com seus diálogos, é essencialmente distinto das novelas narradas
por uma das vítimas, o escritor Gualberto Lopes. As novelas e contos
discorridos por este personagem são de uma escrita envolvente, sendo talvez os
momentos de maior reflexão da obra. Dimas e Ruth, casal central, são os que
movimentam a ficção, mostrando que aquela Alpondras não era mais (ou nunca foi)
uma estática cidade, que fazia jus a sua denominação (pedras que serviam
de ponte em riachos); era na verdade um reflexo da sociedade contemporânea, dos
discursos permissivos e da impunidade recoberta. Alpondras poderia ser qualquer
cidade, a minha ou a sua.
Um comentário:
Obrigado por essa reflexão muito pertinente sobre a minha obra, Karla. Havia lido quando publicada no Jornal O Diário. Passado o calor da agradável surpresa, percebo que o artigo atingiu mesmo a mosca do alvo pretendido nessas linhas de "Tempo Bom em Alpondras". Sua interpretação de meu trabalho não poderia ser melhor. Gratidão.
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