ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 03 DE DEZEMBRO DE 2019 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS
Se o arquivo tem sabor, conforme
descreveu Arlette Farge em seu clássico livro, certamente tem outros elementos
que o “humaniza”; o naturaliza. O arquivo parece inerte, mas é inquietante, tem
cheiro, gosto, som, luz, temperatura. Carrega nas paredes, estantes e
envelopes, cores que naturalmente nos conduzem ao passado. É de fato o caminho
para ali se chegar, estacionar, mergulhar e conhecer.
Link da publicação no site do jornal "O Diário":
O arquivo do Museu "Ruy Menezes" é precioso. Foto de 2011. |
Em Barretos, não há arquivo público,
pelo menos não como instituição independente e agregadora. Mas, o Museu “Ruy
Menezes” assume esse posto há anos, sustentando na parte subterrânea do prédio,
um arquivo de documentos, jornais, fotografias, cartas, folhetins, álbuns,
livros, livretos, revistas e outros papéis de imensurável valor. Boa parte
deste material encontra-se digitalizada democratizando o acesso e preservando o
material. (Louvável isso!). Este setor de pesquisa do Museu é a sua ponte de
diálogo com a comunidade acadêmica e a memorialística.
Antes mesmo de se deparar com os
documentos ali arquivados, o historiador ou pesquisador que vai ao Museu
encontra um ambiente favorável ao retorno do passado. Não necessariamente uma
nostalgia, pois o passado nem sempre reflete saudade, mas uma interlocução
entre os tempos. A arquitetura do prédio, o piso de madeira, os azulejos encobrindo
o chão em certa parte e as peças são um convite a esse clima. A descida pela
escada centenária é, sobretudo, a ponte que nos conduz ao tempo pretérito.
Na história da cidade, se o passado
tem cor, pode ser que seja o amarelo ocre dos envelopes que arquivam os papéis
velhos, se tem cheiro pode ser o dos móveis amadeirados do museu e se tem luz
pode ser a meia-sombra que se projeta naquele subterrâneo. O som do passado é
certo que venha não só das vozes presas nas palavras escritas à caneta de pena
nos documentos ou na tipografia dos jornais, mas no desdobrar do papel-manteiga
que envolve esses mesmos documentos e no barulho suave das luvas transparentes
ao retirá-las das mãos. Pó, poeira e poesia! [continua].
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