quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

1920: LITERATURA E EDUCAÇÃO (PARTE III)

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 28 DE JANEIRO DE 2020 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS 

  
            Em 1920, na praça de Barretos, a conferência da Profª Brasília era quanto a influência da literatura como didática à construção da identidade dos povos. Ela exemplifica como os europeus se formaram, cada qual, como “povo” a partir da inspiração de um livro central. Assim, a índole nacionalista voltada às crianças seria formada pela indução dos livros no ambiente escolar.
            Como ilustração, Brasília comenta sobre a importância do livro “Robinson Crusoé” de Daniel de Foe na característica aventureira do povo inglês, condição básica ao imperialismo. Destacou também o livro “Nos jucaes” de Ruyard Kipling, contemporâneo àquela época, e que, segundo a conferencista, foi condição para que os ingleses passassem a se interessar pela vida natural, higiene, além do prazer da aventura e orgulho da força. Já na França, o livro predileto era a história de Carlos Magno e suas batalhas, o que teria motivado a formação bélica da sociedade. À Espanha a conferencista configura uma reflexão diante o clássico “Dom Quixote”, de Miguel de Cervantes, a partir da dicotomia entre o heroísmo do destemido Dom Quixote e a reflexão e prudência do escudeiro Sancho Pança. Para a Itália, Brasília declara ser o livro “Cuore”, de Edmundo de Amicis, a obra que tanto chama a atenção das crianças (e que nós do futuro sabemos de ter sido a principal obra de influência no nacionalismo italiano). Já a Alemanha, a professora dizia não ter um grande livro, mas reconhecia a ação do “mestre-escola” como unificador do espírito alemão, numa só mentalidade e pátria.
            Diante tais exemplos do nacionalismo europeu, revisitado naquele período entreguerras dos anos 20, a Profª Brasília reproduzia uma visão histórica e sociológica concernente à época em que vivia: a de que os países europeus eram agentes colonizadores na missão de civilizar os demais povos. Essa perspectiva de missão civilizadora, entretanto, foi descontruída ao longo do tempo por conta das consequências de violência e guerra causadas aos povos dominados por tal imperialismo.

Fontes:
"Revista Feminina" (São Paulo/SP), 1920, ed. 73, p. 30-1 - Arquivo da Biblioteca Nacional. 

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