ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 21 DE JANEIRO DE 2020 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS
Em termos gerais, o que significava
ter a conferência integral de uma professora em Barretos publicada numa revista
da capital? Historicamente, muita coisa. Não só pelo fato de ser uma mulher,
mas da mesma representar a classe de professoras com uma envergadura
intelectual expressiva, fazendo-se ouvida por outras mulheres e homens da elite
letrada local. E o principal encontrava-se no mote da conferência, que, ao
falar de Literatura e Educação, anunciava outro tema importante e nem sempre
benquisto em uma cidade interiorana e conservadora: o papel social da mulher.
Na introdução de sua conferência,
durante a quermesse na Praça Francisco Barreto, a Profª Brasília já iniciava: “A
mulher, que se fez dona do seu lar e que soube sobrepor a sua vontade à vontade
do seu marido, é a única que pode garantir uma prole de homens fortes e
independentes. Aquela, porém, que se submeteu aos caprichos do esposo e que os
acolhe como se fossem ordens emanadas de uma autoridade superior, não pode dar
ao mundo senão seres fracos, destituídos de volição”.
Com esse pensamento, de que a mulher
era a responsável pela criação dos filhos, independente na vontade e condução
desta tarefa, Brasília exemplificava o sucesso das matronas romanas, que assim
procediam quanto aos maridos; em contraponto da humilhação vivida no Oriente,
onde as mulheres viviam enclausuradas e na total dependência. Para ela, a
mulher censurada, desautorizada e freada, somente conseguiria criar homens
escravos do ambiente, dos preconceitos e do trabalho.
Essa visão de responsabilidade da
mulher na criação dos filhos era característica do positivismo na 1ª República,
onde a mãe, dotada de predicados, era tida como o condutor para a formação de
homens fortes, futuros cidadãos e comandantes do país. Pela visão crítica da
História, trata-se de uma perspectiva que, embora ofereça a mulher melhores
condições de independência moral, por outro lado, a restringe ao universo do
lar e dos filhos. Era uma visão inicial do que as mulheres aspiravam. Bem
inicial.
Fontes:
- "Revista Feminina" (São Paulo/SP), 1920, ed. 73, p. 30-1 - Arquivo da Biblioteca Nacional.
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