quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

1920: LITERATURA E EDUCAÇÃO (PARTE II)

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 21 DE JANEIRO DE 2020 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS 

             Em termos gerais, o que significava ter a conferência integral de uma professora em Barretos publicada numa revista da capital? Historicamente, muita coisa. Não só pelo fato de ser uma mulher, mas da mesma representar a classe de professoras com uma envergadura intelectual expressiva, fazendo-se ouvida por outras mulheres e homens da elite letrada local. E o principal encontrava-se no mote da conferência, que, ao falar de Literatura e Educação, anunciava outro tema importante e nem sempre benquisto em uma cidade interiorana e conservadora: o papel social da mulher.
           Na introdução de sua conferência, durante a quermesse na Praça Francisco Barreto, a Profª Brasília já iniciava: “A mulher, que se fez dona do seu lar e que soube sobrepor a sua vontade à vontade do seu marido, é a única que pode garantir uma prole de homens fortes e independentes. Aquela, porém, que se submeteu aos caprichos do esposo e que os acolhe como se fossem ordens emanadas de uma autoridade superior, não pode dar ao mundo senão seres fracos, destituídos de volição”.
            Com esse pensamento, de que a mulher era a responsável pela criação dos filhos, independente na vontade e condução desta tarefa, Brasília exemplificava o sucesso das matronas romanas, que assim procediam quanto aos maridos; em contraponto da humilhação vivida no Oriente, onde as mulheres viviam enclausuradas e na total dependência. Para ela, a mulher censurada, desautorizada e freada, somente conseguiria criar homens escravos do ambiente, dos preconceitos e do trabalho.
            Essa visão de responsabilidade da mulher na criação dos filhos era característica do positivismo na 1ª República, onde a mãe, dotada de predicados, era tida como o condutor para a formação de homens fortes, futuros cidadãos e comandantes do país. Pela visão crítica da História, trata-se de uma perspectiva que, embora ofereça a mulher melhores condições de independência moral, por outro lado, a restringe ao universo do lar e dos filhos. Era uma visão inicial do que as mulheres aspiravam. Bem inicial.

Fontes:
"Revista Feminina" (São Paulo/SP), 1920, ed. 73, p. 30-1 - Arquivo da Biblioteca Nacional. 

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