ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 31 DE MARÇO DE 2020 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS
Imagem ilustrativa - fonte google. |
É curioso ser historiador e viver
num momento evidentemente marcante na história mundial. É fato que a pandemia
do coronavírus marcará de sobremaneira a vida humana, graças a extensão
econômica, social, política e cultural que ela alcançou a nível mundial. Por
isso, é sim um momento histórico. Não é o vírus que virará História, mas sim o
comportamento do homem diante dele.
O historiador lida, claramente, com
o passado. Portanto, pouco está acostumado em se sentir como integrante da História,
isto é, como personagem. Está apto para tornar certo episódio em histórico, mas
não em se ver nele; somente teorizá-lo. Deste modo, viver um momento histórico
como este em 2020 sendo historiador é algo inusitado, pois, por mais que se tente
imaginar o fim da pandemia e seus resultados, não é fácil enxergar algo
concreto. Historiador trabalha com dados, documentos, entrevistas, imagens e
vestígios – tudo isso disponível para ser cruzado e analisado. Mas, quando se
trata de algo que ainda está ocorrendo e os números e as fontes são incertas,
simplesmente não há como se historicizar ainda. É precipitado. Há, no entanto, como
se imaginar quais serão os temas tratados, todos pautados nos principais
pilares: saúde pública, povo e governo.
Todavia, quando se é historiador, a
veia pulsa. Os dedos parecem coçar para se registrar os cenários atuais, a fim
de que tais registros possam se tornar futuras fontes. Um historiador, mesmo
sendo testemunha ocular desta pandemia, enxerga nela aspectos que um cidadão
comum pouco consegue captar: os discursos se sobrepondo à realidade; a
cidadania sendo exercida pelo cumprimento à interferência do Estado; a
politicagem se apropriando da comoção popular; a ciência sendo colocada à prova
pelo senso comum e a esperança nas políticas públicas da Economia. Todas
características presentes em outros tempos da vida humana. Seria, então, um
tormento ao historiador enxergar tanta repetição no tempo? Ou um privilégio
saber que mudanças estão por vir? Aclamação ou látego, eis o destino do
historiador (mesmo quando se é personagem).
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