quarta-feira, 1 de abril de 2020

A VISÃO DE UM HISTORIADOR

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 31 DE MARÇO DE 2020 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS 
Imagem ilustrativa - fonte google.

             É curioso ser historiador e viver num momento evidentemente marcante na história mundial. É fato que a pandemia do coronavírus marcará de sobremaneira a vida humana, graças a extensão econômica, social, política e cultural que ela alcançou a nível mundial. Por isso, é sim um momento histórico. Não é o vírus que virará História, mas sim o comportamento do homem diante dele.
            O historiador lida, claramente, com o passado. Portanto, pouco está acostumado em se sentir como integrante da História, isto é, como personagem. Está apto para tornar certo episódio em histórico, mas não em se ver nele; somente teorizá-lo. Deste modo, viver um momento histórico como este em 2020 sendo historiador é algo inusitado, pois, por mais que se tente imaginar o fim da pandemia e seus resultados, não é fácil enxergar algo concreto. Historiador trabalha com dados, documentos, entrevistas, imagens e vestígios – tudo isso disponível para ser cruzado e analisado. Mas, quando se trata de algo que ainda está ocorrendo e os números e as fontes são incertas, simplesmente não há como se historicizar ainda. É precipitado. Há, no entanto, como se imaginar quais serão os temas tratados, todos pautados nos principais pilares: saúde pública, povo e governo.
            Todavia, quando se é historiador, a veia pulsa. Os dedos parecem coçar para se registrar os cenários atuais, a fim de que tais registros possam se tornar futuras fontes. Um historiador, mesmo sendo testemunha ocular desta pandemia, enxerga nela aspectos que um cidadão comum pouco consegue captar: os discursos se sobrepondo à realidade; a cidadania sendo exercida pelo cumprimento à interferência do Estado; a politicagem se apropriando da comoção popular; a ciência sendo colocada à prova pelo senso comum e a esperança nas políticas públicas da Economia. Todas características presentes em outros tempos da vida humana. Seria, então, um tormento ao historiador enxergar tanta repetição no tempo? Ou um privilégio saber que mudanças estão por vir? Aclamação ou látego, eis o destino do historiador (mesmo quando se é personagem).

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