domingo, 11 de abril de 2010

O OUTRO LADO DAS NOVELAS


            As novelas televisivas fazem parte do cotidiano dos brasileiros desde meados do século XX e surgiram em um momento histórico paralelo a era do rádio nos “anos dourados”. A história da televisão no Brasil poderia ser considerada um tanto “cômica” em sua origem, pois, durante o governo do Presidente Dutra (1946-1951) houve um incentivo às importações de tecnologias e foi neste momento que muitos brasileiros passaram a adquirir suas televisões. Mas, embora o consumo da televisão crescesse, não existia ainda nenhuma emissora televisiva na época, o que não permitia o total aproveitamento do aparelho. Somente em 1950 que surgiu a TV Tupi e os brasileiros então passaram de fato “assistir televisão”.
            Com suas novelas, a TV Tupi fez muito sucesso no Brasil e, a partir daí, as novelas passaram a exercer forte influência na mentalidade dos brasileiros, tanto no poder de lançar tendências sociais quanto no poder de polemizar certos assuntos. Nesse sentido, todo este poderio pode gerar conseqüências graves na sociedade, como exemplo, a inversão de certos valores de convivência social. Em outras palavras, uma novela, se não bem interpretada, pode levar o expectador à alienação da realidade, fazendo com que ele se baseie em uma espécie de “senso comum do momento” e atue como uma pessoa sem personalidade própria.
            Por outro lado, as novelas podem apresentar seus aspectos positivos e de muita serventia à sociedade, se vista como um objeto a ser costumeiramente criticado pelo expectador. Á isto podemos propor as “novelas de época”, as quais obviamente não retratam de forma fiel a realidade do passado, mesmo porque suas propostas costumam ser baseadas em romances e não em história como ciência, mas podem apresentar características únicas das épocas as quais permitem-nos visões parciais sobre o passado que jamais teríamos chance de conhecer. Podemos citar, então, o caso da novela Sinha Moça, exibida pela Rede Globo, onde, se se notar as “entrelinhas” da novela, percebemos características especiais da época. Por exemplo, o cenário da arquitetura colonial, as vestimentas francesas, o transporte ferroviário, a linguagem do português arcaico, a luta pela República e Abolição, a marginalização do capitão do mato e a brava resistência dos negros em suas fugas. Enfim, são detalhes que a simples História ensinada na escola possibilita a crítica e o cartão de entrada para o conhecimento de um mundo televisivo a ser explorado por suas próprias visões e sensações.
            Portanto, as novelas podem apresentar, no sentido negativo da palavra, um mero “modismo” alienante se forem vistas com olhos que se recusam a criticá-las e obedecerem certas tendências que são propositalmente manipuladoras. Pensemos então que, cada um de nós podemos ser historiadores dos fatos e compor nossa própria interpretação contribuindo para a criticidade da televisão, um meio de comunicação tão importante e que podemos trazer para o nosso lado como um compromisso social.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 09 DE ABRIL DE 2010.

2 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Até agora essa foi o melhor texto, eu adoro TV e achei super interessante saber mais dela, muito legal isso antigamente só tinha a TV Tupi agora tem a globo, sbt e ect...
Adorei prof. até quarta, ahh! que chato queria que a aula de história fosse todo dia.