sábado, 19 de maio de 2012

O TRABALHADOR E A HISTÓRIA



ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 6 DE MAIO DE 2012

“A História humana não se desenrola apenas nos campos de batalha e nos gabinetes presidenciais. Ela se desenrola também nos quintais entre plantas e galinhas, nas ruas de subúrbios, nas casas de jogos, nos prostíbulos, nos colégios, nas usinas, nos namoros de esquinas. Disso eu quis fazer a minha poesia” (Ferreira Gullar).
            O trecho acima foi escrito por Ferreira Gullar, pseudônimo de José Ribamar Ferreira, um maranhense, crítico literário e memorialista nascido em 1930. As palavras acima retratam como a história vem lidando com seus personagens e as narrativas nos tempos da atualidade. O “fazer histórico” do presente coloca em destaque figuras sociais que antes não apareciam na história, tais como os escravizados, as mulheres, os índios, os operários e trabalhadores dos mais diversos setores. E nesta semana que se comemorou o dia do trabalhador, é interessante notar a inserção deste na escrita da história.
            No passado, os historiadores compunham a narrativa histórica baseada nos acontecimentos marcantes e nos líderes políticos. Seria redundância, porém, dizer que tais historiadores assim faziam de propósito e julgá-los conforme os tempos de hoje. Na realidade, a história é uma ciência e, assim como todas as outras de várias áreas, se adapta à realidade e as necessidades do tempo presente. Então, se no presente, a sociedade é regida predominantemente por uma camada social opressora, é óbvio que o “fazer histórico” será concebido por personagens desta mesma camada.
            A partir de meados do século XX, no período das guerras mundiais, o mundo passava por crises econômicas e políticas. A história, por sua vez, passou a ser elaborada com vistas às crises e aos processos econômicos. Neste contexto, os povos oprimidos também passaram a entrar para as narrativas da história, por influências da teoria marxista que enaltecia a conscientização da classe trabalhadora.
            A partir de então, os trabalhadores e demais setores da sociedade que eram excluídos passaram a fazer parte da história. Mas, isso aconteceu não somente por causa das teorias. Com certeza, o principal fator que contribuiu para a inclusão dos trabalhadores foi a própria luta por melhores condições de trabalho, moradia, vida e direitos trabalhistas que fez com que o trabalhador ganhasse mais destaque na sociedade. O que não quer dizer que a luta terminou.
            Mesmo com muitos obstáculos a serem superados, os trabalhadores do tempo presente estão com mais voz e por isso aparecem no “fazer histórico”. Existem vários trabalhos acadêmicos no Brasil que, nas últimas décadas, colocam em evidência a questão do trabalhador e suas várias referências. Em Barretos, pesquisas relativas aos trabalhadores do frigorífico e daqueles que moravam no bairro “Outro Mundo” já foram feitas por historiadores graduados. Porém, muitas questões referentes ao trabalhador de outras épocas ainda estão abertas e aptas a serem pesquisadas por esta nova história.

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