ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 29 DE ABRIL DE 2012
“Para
muitos de vós a curiosa e suggestiva exposição que gloriosamente inauguramos
hoje, é uma agglomeração de ‘horrores’. Aquelle Genio suppliciado, aquelle
homem amarello, se não são jogos da fantasia de artistas zombeteiros são seguramente
desvairadas interpretações da natureza e da vida. Não está terminado o vosso
espanto. Outros ‘horrores’ vos esperam. Daqui a pouco, juntando-se a esta
collecção de disparates, uma poesia liberta, uma musica estravagante, mas
transcendente, virão revoltar aquelles que reagem movidos pelas forças do
Passado. Para estes retardatários a Arte ainda é o Bello”.
(O Estado de S. Paulo, 14/2/1922).
As palavras acima foram proferidas
há mais de noventa anos atrás por Graça Aranha durante a “famosa” Semana de
Arte Moderna de 1922. O discurso demonstra o “choque” da arte brasileira
vivenciada naquele momento, onde os próprios artistas sabiam o quanto aquilo
impactaria na sociedade. E assim o foi. Os “loucos anos 20”, foi um período de
transformações na Europa do pós guerra, e o Brasil também passava por mudanças,
mas não tão profundas. Estados mais desenvolvidos, como São Paulo e Rio de
Janeiro, vivenciavam um cenário urbano e tecnologias, mas a maioria da
população brasileira ainda era rural e o tradicionalismo na política se
perpetuava.
Agora, a cultura pronunciava seu
desejo de rompimento com o tradicional, com o acadêmico e com os cânones
artísticos nesta época. A Semana de Arte Moderna de 1922 foi o estopim do
movimento modernista no Brasil, que atingiu as artes plásticas, as esculturas,
a literatura e demais setores artísticos. Os artistas modernos, influenciados
pelas vanguardas europeias, almejavam elaborar uma forma de arte mais criativa,
sem aquela concepção de “belo” que as academias pregavam para seus alunos. Para
estes inovadores, era o momento de ser criada uma arte genuinamente brasileira,
com as cores e formas do povo aqui vivente, afim de ser construída a identidade
nacional e ressaltar os personagens brasileiros como o índio, o caipira e o negro.
Na
pintura, os traços imperfeitos e tortuosos, assim como as formas abstratas de
artistas como Anita Malfatti e Tarsila do Amaral assustavam escritores
tradicionais como Monteiro Lobato. Outro desta forma, o poeta Olavo Bilac,
também não condizia com a falta de métrica e rimas das poesias modernas. As
esculturas de Vitor Brecheret, que não se pautavam nos movimentos naturais
renascentistas, foram recebidas com extrema resistência pela população. Todos
estes artistas foram recebidos de maneira hostil naquele acontecimento que
marcou a história do Brasil.
Diz-se até hoje que,
financeiramente, a Semana de Arte Moderna de 1922 foi um fracasso. No entanto,
no que diz respeito a mudanças culturais e quebras de paradigmas
tradicionalistas, bem como a liberdade artística no “criar” e no “imaginar”,
foi sim um acontecimento surpreendente e proveitoso. Não é a toa que cá, 90
anos mais tarde, estamos falando deste fato com tamanha relevância.
Fonte: Apostila Objetivo, 9º ano, 1º bim, 2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário