segunda-feira, 30 de abril de 2012

SEMANA DE ARTE MODERNA: 90 ANOS

ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 29 DE ABRIL DE 2012


“Para muitos de vós a curiosa e suggestiva exposição que gloriosamente inauguramos hoje, é uma agglomeração de ‘horrores’. Aquelle Genio suppliciado, aquelle homem amarello, se não são jogos da fantasia de artistas zombeteiros são seguramente desvairadas interpretações da natureza e da vida. Não está terminado o vosso espanto. Outros ‘horrores’ vos esperam. Daqui a pouco, juntando-se a esta collecção de disparates, uma poesia liberta, uma musica estravagante, mas transcendente, virão revoltar aquelles que reagem movidos pelas forças do Passado. Para estes retardatários a Arte ainda é o Bello”. (O Estado de S. Paulo, 14/2/1922).
            As palavras acima foram proferidas há mais de noventa anos atrás por Graça Aranha durante a “famosa” Semana de Arte Moderna de 1922. O discurso demonstra o “choque” da arte brasileira vivenciada naquele momento, onde os próprios artistas sabiam o quanto aquilo impactaria na sociedade. E assim o foi. Os “loucos anos 20”, foi um período de transformações na Europa do pós guerra, e o Brasil também passava por mudanças, mas não tão profundas. Estados mais desenvolvidos, como São Paulo e Rio de Janeiro, vivenciavam um cenário urbano e tecnologias, mas a maioria da população brasileira ainda era rural e o tradicionalismo na política se perpetuava.
            Agora, a cultura pronunciava seu desejo de rompimento com o tradicional, com o acadêmico e com os cânones artísticos nesta época. A Semana de Arte Moderna de 1922 foi o estopim do movimento modernista no Brasil, que atingiu as artes plásticas, as esculturas, a literatura e demais setores artísticos. Os artistas modernos, influenciados pelas vanguardas europeias, almejavam elaborar uma forma de arte mais criativa, sem aquela concepção de “belo” que as academias pregavam para seus alunos. Para estes inovadores, era o momento de ser criada uma arte genuinamente brasileira, com as cores e formas do povo aqui vivente, afim de ser construída a identidade nacional e ressaltar os personagens brasileiros como o índio, o caipira e o negro.
            Na pintura, os traços imperfeitos e tortuosos, assim como as formas abstratas de artistas como Anita Malfatti e Tarsila do Amaral assustavam escritores tradicionais como Monteiro Lobato. Outro desta forma, o poeta Olavo Bilac, também não condizia com a falta de métrica e rimas das poesias modernas. As esculturas de Vitor Brecheret, que não se pautavam nos movimentos naturais renascentistas, foram recebidas com extrema resistência pela população. Todos estes artistas foram recebidos de maneira hostil naquele acontecimento que marcou a história do Brasil.
            Diz-se até hoje que, financeiramente, a Semana de Arte Moderna de 1922 foi um fracasso. No entanto, no que diz respeito a mudanças culturais e quebras de paradigmas tradicionalistas, bem como a liberdade artística no “criar” e no “imaginar”, foi sim um acontecimento surpreendente e proveitoso. Não é a toa que cá, 90 anos mais tarde, estamos falando deste fato com tamanha relevância.

Fonte: Apostila Objetivo, 9º ano, 1º bim, 2012.

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