segunda-feira, 30 de abril de 2012

LIVROS DIDÁTICOS: FORMADOR DE OPINIÕES

ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 15 DE ABRIL DE 2012


            Já disse o mestre Érico Verissimo: “Os livros escolares, cujo objetivo é ensinar-nos a história da nossa terra e do nosso povo, são em geral escritos num espírito maniqueísta, seguindo as clássicas antíteses – os bons e os maus, os heróis e os covardes, os santos e os bandidos. Via de regra, não se empregam nesses compêndios as cores intermediárias, pois seus autores parecem desconhecer a virtude dos matizes e o truísmo de que a História não pode ser escrita apenas em preto e branco”.
            A frase de Verissimo leva-nos a uma reflexão sobre a composição do livro-didático e sua importância como formador de opinião dos indivíduos de uma sociedade. Em História, o livro-didático é de extrema relevância no sentido de que leva o aluno a entender os momentos da história de seu país e a formação da cultura do povo a que pertence. Além de promover a interação com a memória de seus antepassados.
            Verissimo aborda o problema de parte dos livros-didáticos de História que insistem em compor uma história maniqueísta, ou seja, de personagens que ou são bons ou são maus. Sem intermediações. Muitas vezes, essa visão unilateral da história coloca, por exemplo, o bandeirante como o herói e o índio como o “manso”; ou o senhor feudal como “mau” e o servo como “bom”; ou ainda o escravo como “covarde” e o senhor de engenho como “torturador”. Esse tipo de composição acontecia, predominantemente, há algumas décadas atrás, mas ainda hoje alguns livros continuam a ser compostos assim. Isso porque estamos inseridos numa sociedade que exige extrair a “verdade” das ciências, inclusive as “humanas”, e por isso orienta-nos a uma falsa moralidade.
            Ora se a História fosse composta desta forma maniqueísta, ela tenderia expressamente à parcialidade, e assim perderia seu caráter de ciência. Não que a história consiga ser por inteira imparcial, mas a intenção é sempre demonstrar os vários ângulos de um fato. É necessário entender que o fato histórico existe, o problema é o modo como ele é contado, revisto e analisado em cada época pelos historiadores. O exemplo mais comum é o dos bandeirantes, que no passado eram vistos como heróis (desbravadores do sertão, como bem mostra o Hino de Barretos), e nas visões atuais da historiografia, são apontadas, sobretudo, suas ações de matança e violência contra a população indígena. Esta versão o afasta de qualquer tipo de heroísmo, mas por outro lado pode cair no truque maniqueísta de colocá-lo como o “mau” da história.
            Desta feita, não existe uma verdade única e acabada que proporcionaria à história um passado pronto e fechado. Doce ilusão. Cabe ao professor de História, gerar a reflexão dos fatos, mostrar as “cores intermediárias” da História, que seriam, por exemplo, as várias versões de historiadores (claro, que traduzidas de maneira acessível aos alunos). Enfim, aquilo que o livro-didático aborda como tema é o resultado de uma visão, uma escolha de determinada época. É o que a historiografia ditava como mais próximo do passado e jamais o alcance imediato deste. O livro-didático forma opiniões e, por isso, devia ser mais aberto às novas discussões.

Um comentário:

Unknown disse...

Boa tarde professora Karla Armani, sou estudante de pedagogia da FAEC( Faculdade estadual do Ceará). E estou atras de aprender sobre algo que form minha opinião critica gostei muito do artigo. Que leitura e autores a senhora sugere pra essa aprendizagem.