ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 25 DE MARÇO DE 2012
“De mais homem
de meu tempo, acreditando sinceramente nos progressos da sciencia, eu me tinha
habituado a olhar com desdém para tudo que não sahisse competentemente
etiquetado dos laboratórios, com o <> dos sábios”.
(Jornal O
Sertanejo, 19/5/1900, p. 2)
A frase acima foi escrita pelo Cel.
Silvestre de Lima numa carta endereçada ao dr. Luiz Pereira Barreto publicada
no jornal “O Sertanejo” de Barretos. Pela frase de Silvestre percebe-se sua
afeição pela ciência, pelos laboratórios, e o contrário por tudo aquilo que não
fosse sancionado pelos cientistas. O contexto desta carta era referente a uma
enfermidade na pele contraída por seu irmão mais velho, José Vicente de Lima,
que nenhum médico conseguia curar.
O irmão de Silvestre já tinha
recorrido a vários tipos de terapêuticas (inclusive fez uso até das águas de
Caldas) na tentativa de curar aquela doença que cada vez mais se alastrava na
pele. Foi então que, chegou ao conhecimento da família a existência de um velho
curandeiro morador de Barretos chamado Joaquim Tomé, este já havia curado casos
da mesma doença através do uso de raízes. Sendo assim, Silvestre de Lima, como
um “homem de seu tempo”, quer dizer, república, de uma era moderna, científica,
mesmo intrigado resolveu conferir a validade da ação do curandeiro.
O fato foi que o velho curandeiro,
descrito por Silvestre como “caboclo e octogenário”, curou a doença do irmão dele
em poucos dias. Ainda em dúvida sobre o que havia acontecido, Silvestre
resolveu publicar a receita das ervas e raízes usadas no tratamento, afim de
que os médicos pudessem avaliar como que aquela receita do curandeiro agiu
diante à doença.
Depois de explicita a polêmica por
Silvestre, o que se pode analisar de tudo isso era como os intelectuais daquela
época, apreciadores da República e da ciência, tentavam levar ao povo os
hábitos modernos, no caso em questão, a cura das doenças através dos médicos,
dos remédios, dos laboratórios. No entanto, era ainda permanente na mentalidade
e até no cotidiano da população a apreciação dos antigos hábitos, isto é, o
apelo aos curandeiros e suas “benzeções”.
Por mais que a República no Brasil
criasse mecanismos de comportamentos, hábitos e normas sociais, as antigas
tradições estavam presentes entre estes novos hábitos. Afinal como disse o dr.
Wilson Ferreira de Melo em artigo publicado no jornal “Correio de Barretos” em
1/10/1944: “Todos nós que somos
descendentes de sertanejos, que vivemos do sertão, num anseio crescente de
progresso, ao voltar nossas vistas ao passado, vamos ver nosso pai ou nossa mãe
cozinhando raízes, fazendo infusões, enfim, procurando um remédio, um recurso
para que sobrevivêssemos, para que a doença pertinaz não nos roubasse ao seu
amor e aos seus desvelos. Este é o conceito que eu faço de curandeirismo, nas
suas origens”.
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