segunda-feira, 31 de maio de 2021

Ainda sobre nós, mulheres

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 16 DE MARÇO DE 2021 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS      

            Assisti a um 8 de março interessante, com discursos contraditórios: por um lado, algo libertário e feminino, e, por outro, tradicionalista e machista.

            Nas redes sociais, pensadoras, intelectuais e artistas publicaram textos e vídeos sobre o “Dia da Mulher” referindo-se ao pouco que temos a “comemorar”, já que ainda são baixos os índices de igualdade profissional e de oportunidades, diferente do que acontece quanto aos dados de violência. Em contrapartida, o mesmo “Dia da Mulher” ostentou as conquistas que hoje nos parecem óbvias (direito ao voto, ao divórcio, ao trabalho, ao esporte, etc), mas que resultaram de longas lutas desbravadas por mulheres corajosas. Um discurso inteligente e intelectualmente construído.

            E, na via contrária dessa narrativa real e prática de muitas mulheres, instituições públicas e privadas perderam a chance de se sintonizarem a estes ideais e reproduziram pensamentos que aparentam ser sutis, mas que na verdade reforçam o machismo de uma forma romantizada. Em Barretos, inclusive, vi instituições públicas se referindo ao Dia da Mulher com mensagens que ligavam as mulheres exclusivamente à doçura, sacralidade, maternidade, luz, beleza; conceitos que engessam a mulher no estereótipo de figura ligada somente ao lar e aos filhos. O Dia da Mulher não é para isso, é uma oportunidade de enxergar a mulher como “ser social”, como um grupo que historicamente foi condicionado à submissão, mas que luta contra essas amarras, libertando-se pouco a pouco de rótulos e destituindo os limites que a sociedade lhe impõe. É sim um dia para falarmos da realidade assustadora que ainda precisamos driblar, cujo alcance será através da representatividade, ocupação dos espaços, gestão na política e no trabalho, pertencimento e empoderamento. (Se não fosse essa a realidade, este artigo não teria tantas palavras “ainda”).

            Não há mais espaço para discursos tradicionalistas, o futuro já começou às mulheres, e Barretos precisa engrenar nele.

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