segunda-feira, 18 de maio de 2009

BARRETOS E O 13 DE MAIO



Foi em 13 de maio de 1888 que a Abolição da escravatura aconteceu oficialmente, a assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel foi o marco da história tradicional deste momento. Mas, sabemos que somente uma assinatura não modifica a mentalidade e nem os costumes de uma cultura do dia para a noite. A escravidão acabava, mas a segregação social continuava em todos os cantos deste Brasil, inclusive em nossa cidade.
Certa vez, um aluno da 8ª série da E. E. “Cel Almeida Pinto” me perguntou se existiu escravidão em Barretos. Foi então que somente comparando as datas de fundação da cidade (1854) e da abolição (1888) a resposta surgiu como um flash, era visível um rosto de espanto e curiosidade. O assunto foi contagiante, os alunos começaram a refletir cada vez mais, pois quando se trata de um tema da História do Brasil que aconteceu na cidade em que vivemos o assunto fica mais próximo da nossa realidade e interessante.
A curiosidade e o espanto não pararam por aí, falei sobre uma carta escrita e assinada pelo patrono da escola, o Cel. Almeida Pinto, onde pode ser provada cientificamente a existência de escravos em Barretos. Eis as inscrições da carta, com a caligrafia da época:
“Compadre Romão, Barretos, 3 de março de 1888 - Pesso lhe o favor de entender se com o Snr. Chiquinho do Rio Velho afim d’elle vir cá p.a levar ou fazer qualquer negocio a respeito do escravisado João, que por ahi andava a cassa de patrão e q. ultimamente eu aceitei-o em casa até que o Chiquinho providencie nesse sentido. Diga a Comadre que eu a espero na festa. Adeus. Disponha do Comp e Amigo - J. C. Almeid.a Pinto”.
Pois bem, o Cel. Almeida Pinto pedia ajuda a seu amigo para identificar quem era o proprietário do escravizado João, já que ele o abrigou em sua propriedade. O mais curioso é a data da carta, quase dois meses antes da assinatura da Lei Áurea. O coronel ainda finaliza a carta com humor lembrando o amigo de uma festa.
Por fim, os alunos identificaram certas características do patrono da escola e sanaram as dúvidas sobre a escravidão em Barretos. Misturar história do Brasil com história da região é sempre produtivo, “historiar” faz bem!

REFERÊNCIAS: Documentos do Museu “Ruy Menezes”.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 15 DE MAIO DE 2009.

Um comentário:

ORTIZ disse...

A aprendizagem ocorre através da assimilação da informação no seu ambiente... se o aluno identifica a informação no seu ambiente, no seu cotidiano, o interesse sobre o assunto sobe de forma extrema.
Parabéns pelo relato.
INTERESSANTÍSSIMO