segunda-feira, 4 de maio de 2009

ÚNICOS ONTEM, ANÔNIMOS HOJE...




“Aquilo que a fotografia reproduz até o infinito só aconteceu uma vez:
ela repete mecanicamente o que nunca mais poderá repetir-se existencialmente”.
(Roland Barthes)


Hoje, sexta-feira, 1º de maio é comemorado o Dia do Trabalho, um feriado que além de descansarmos, podemos refletir um pouco sobre os trabalhadores que já contribuíram com seus serviços, ajudaram no desenvolvimento da tecnologia atual e que infelizmente estão esquecidos pelo tempo. Podemos chamá-los hoje de anônimos. Saudosos anônimos, que foram extintos pela facilidade tecnológica e pela incessante pressa de velocidades. Um destes anônimos é o fotógrafo “lambe-lambe”. Lembram-se deles? Alguns sim, a maioria não.
Este curioso nome é referente ao seu revolucionário instrumento de trabalho em fins do século XIX e início do século XX, a “máquina fotográfica lambe-lambe” - com sua grande estrutura e a caixa preta coberta por um pano. Era assim denominada, por conta do teste que o fotógrafo fazia para saber de que lado estava a emulsão de uma chapa. Costumava molhar com saliva a ponta dos dedos indicador e polegar, fazer pressão sobre a superfície do material sensível num dos cantos para evitar manchas, até que se produzisse uma impressão de colagem nos dedos do lado em que estaria a emulsão.
A paisagem de suas fotografias eram as mais belas praças e jardins públicos, outros tinham estúdios com fundos decorativos. Famílias inteiras iam até o local escolhido para tirar fotografias, sempre no padrão patriarcal, o pai sentado ao centro com a mão da esposa sob seu ombro e os filhos nas laterais. Um dos fotógrafos lambe-lambe mais antigos que atuaram em Barretos, foi José da Silva Mattos. O jornal “O Sertanejo”, em 1901, era cenário de suas propagandas: “Photographia Mattos – Trabalha-se com perfeição em retratos, grupos, etc. – Largo da República”, atual Praça Francisco Barreto.
Com o passar dos anos, as máquinas fotográficas tornaram-se portáteis e os fotógrafos gradativamente tornaram-se mais escassos. Estas máquinas portáteis permitiram a popularização do ofício, muitas famílias eram proprietárias de máquinas fotográficas e montavam seus próprios álbuns. Nos dias atuais, essa situação tende a crescer cada vez mais com o advento das máquinas digitais. Mas, há quem diga que nenhuma revelação se compara ao resultado das máquinas lambe-lambe, inclusive as máquinas digitais de hoje.
Por tudo isso, ficamos a pensar... o que seria da história da nossa cidade se não fossem os fotógrafos lambe-lambe que por aqui passaram e registraram boa parte dos acontecimentos passados? Ou até mesmo os fotógrafos das décadas de 50, 60 e 70, como o famoso “Maurício”, autor de muitas fotografias do Museu “Ruy Menezes”. Afinal, que neste feriado lembremos de todos aqueles que trabalharam por eles mesmos e consequentemente por nós, pela nossa história!

OBS: O Museu “Ruy Menezes” possui em seu acervo uma histórica máquina fotográfica “lambe-lambe”. Vale a pena conferir!

REFERÊNCIA: FERNANDES, Rubens Jr. Desconhecidos íntimos – o imaginário do fotógrafo lambe-lambe.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 01 DE MAIO DE 2009.

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