Há poucos dias, uma rede social de História da internet publicou uma reportagem sobre a História das Calcinhas. Por mais estranho que isso possa parecer, é bastante interessante, e também instrutivo, conhecer as relações entre as roupas íntimas das mulheres de épocas diversas com os contextos históricos ocorridos nos períodos como Idade Média, Revolução Francesa, Período Vitoriano, 1ª Guerra Mundial e outros. Qual será a relação do contexto histórico e a vestimenta íntima das mulheres? É exatamente a questão da mentalidade de cada época que irá influir nos comportamentos e aparências das pessoas, e foi a partir deste raciocínio que a historiadora inglesa Rosemary Hawthorne pesquisou o assunto e publicou o livro “Por baixo do pano”. O assunto é tão atual e atrativo que pesquisas realizadas no Brasil, em 2008, demonstram um consumo muito grande das peças, onde 835 milhões de peças íntimas foram vendidas, o que acarretou em R$ 4,59 bilhões de reais para o país.
Tratando-se das vestimentas ocidentais, anterior ao século XVIII, principalmente durante o período medieval, as mulheres usavam debaixo dos pesados vestidos somente uma camisola de linho, o corpete e uma anágua; as ceroulas ou calções eram peças exclusivas do guarda-roupa masculino e as mulheres que ousavam em usá-las eram consideradas “libertinas”. A Revolução Francesa, na condição de um acontecimento que iniciou uma nova era às sociedades européias e suas colônias, marcou o surgimento dos calções ou pantaloons, que não agradaram as moças da época por diminuir a ventilação debaixo dos vestidos além de irem até os joelhos ou tornozelos e terem cor de “carne”.
A partir do Período Vitoriano, na Inglaterra do século XIX, as calcinhas passaram a fazer parte do vestuário feminino das mulheres de alto poder aquisitivo. Entretanto, falar sobre tal assunto era “tabu”, já que conforme a mentalidade da época, as mulheres não mostravam seus corpos nem para seus maridos, a sessão de lingeries das lojas ficava escondida e nas propagandas as calcinhas apareciam dobradas em prateleiras.
Somente a partir do século XX, depois da 1ª Guerra Mundial, que as calcinhas começaram a ficar mais parecidas com as que conhecemos (calçolas da vovó), pois, nascia a “mulher moderna”, agora um tanto mais exibicionista de seu próprio corpo. Com as décadas seqüentes, surgiram os “baby-dolls”, a camibocker, o caleçon e as calcinhas de renda, fio-dental e seda. A década de 70, considerada por muitos como promotora da emancipação feminina, acompanhou a moda do jeans Saint-tropez e promoveu também a moda íntima nacional mais adaptada ao corpo das brasileiras.
Quem imaginaria que as peças íntimas femininas seriam tão importantes fontes de estudo em relação a mentalidade das diferentes épocas históricas? É nas entrelinhas que se vê a história, sapere aude!
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