domingo, 27 de junho de 2010

UMA PROMESSA PARA ANTÔNIO


            “A fé move montanhas...”, já dizia o ditado popular. É com este pensamento que o famoso casal desta coluna, (já que assim o tornaram depois de tantas aventuras) meus avós Antônio e Joanita, vivem uma intensa caminhada de religiosidade, promessas e graças. Sabemos que é típico, cultura e historicamente falando, o ato de fazer promessas ao santo devoto para conquistar uma graça tão almejada, entretanto, fazer a promessa e cumpri-la ao resto da vida é algo raro, raríssimo eu diria. Pois bem, e foi assim que tudo começou...
            Antônio, aos trezes anos machucou-se em uma máquina de picar cana-de-açúcar, e o resultado foi um acidente com a sua mão direita. Sua mãe, Geralda, ao ver seu filho acidentado, rezou a Santo Antônio de Pádua pedindo que o menino se recuperasse e que o acidente jamais o impedisse de trabalhar para construir uma vida digna. Em troca do pedido, Geralda prometeu ao santo que faria uma festa todo dia 13 de junho para rezar um terço em sua homenagem. E assim, desde o ano de 1954, em Barretos, Geralda cumpriu fielmente sua promessa. A partir de 1960, um ano após o casamento de Antônio, a promessa passou a ser responsabilidade da esposa do agraciado, e, desde então, Joanita cumpre seu dever com muita dedicação, pois no próximo dia 12 de junho completam cinqüenta anos que ela administra a festa.
            “No início era complicado porque a gente morava na fazenda e lá não tinha forno, então... o jeito era assar o bolo e os biscoitos dentro da panela de ferro com um prato de brasa em cima, e dava certo viu?!”, disse Joanita com muito entusiasmo. Como tradição, a fogueira e os fogos de artifício não poderiam faltar, e Antônio até hoje relembra: “alguns de meus amigos caminhavam por cima da brasa da fogueira!”. Mas, antes dos comes e bebes, é claro que o objetivo era a reza do terço e os cantos a Santo Antônio, sempre relembrando a promessa que D. Geralda havia feito há tanto tempo. Outro ato comum em todos os anos é a passagem debaixo da bandeira, confeccionada pela própria Joanita, e o asteamento da mesma que só é retirada no dia de São Pedro, 29 de junho. Muitos destes costumes perduram até hoje e a casa do casal fica transbordada de amigos, familiares e devotos, inclusive as moçoilas que acreditam no poder de Santo Antônio em ajudar a conquistar o sonho do casamento.
            Enfim, a festividade religiosa realizada por Antônio e Joanita é tão rica em símbolos e significados que só os olhos de quem acompanha há tantos anos consegue descrever a emoção. O ato de prometer não significa receber, pois, somente a fé e o merecimento são capazes de tamanho feito. E assim aconteceu com o menino Antonio, que, hoje, aposentado, com quase setenta anos, ainda trabalha e sustenta sua família com a dignidade que sua mãe sempre valorizava. Viva Santo Antônio!         

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP) EM 11 DE JUNHO DE 2010.

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