quarta-feira, 28 de julho de 2010

O LATIM SOBREVIVE


            A língua portuguesa falada por nós, brasileiros, e por outras milhões de pessoas que vivem nos dez países que falam o português, é um idioma considerado difícil de aprender por aqueles que desconhecem as derivações das línguas latinas. Isto porque o “português” é uma língua neolatina, como nos é mostrado nas incríveis salas do “Museu da Língua Portuguesa” localizado nas dependências da Estação da Luz na capital paulista. Através de vídeos e painéis ilustrativos sobre a história da língua portuguesa, torna-se perceptível a proximidade do latim falado no passado com a nossa linguagem atual. Até que ponto o latim esta presente na língua portuguesa do século XXI?  
            O surgimento do latim é atribuído às línguas arcaicas faladas no Lácio, região da Itália central, e em Roma séculos antes à era cristã. Desta forma, a designação “latim” é proveniente do local de seu surgimento, Latium - no idioma deles. Como é de costume em muitas culturas, existia o “latim erudito” com a gramática correta falada pelos literatos e intelectuais e o “latim popular” dito pelo povo na linguagem cotidiana. Este latim popular foi disseminado a outras regiões da Europa na época do apogeu do Império Romano, pois, ao dominar novos territórios e interagir com os idiomas locais, a língua popular falada pelos soldados possibilitou a mistura destes dialetos que culminaram nas línguas neolatinas, nas quais está incluso o nosso “português”.
            A maioria dos textos acadêmicos da internet revelam que o português falado no Brasil descende do contato do latim popular com o galego falado na antiga região do Condado Portucalense, hoje Portugal. Ainda mais, há de se considerar que a língua portuguesa é resultado de outras misturas com as línguas puras nativas dos indígenas que aqui viviam antes da colonização portuguesa. No entanto, mesmo com a mistura brasileira das línguas tupi, macro-jê e aruaque, o latim também tornou-se base da língua portuguesa, isso se repararmos nos radicais de nossas palavras, como exemplo: “cap”: capacete e capuz e “leg”: legislação, legal, legista.
            Mas, não só os radicais em latim são sobreviventes na língua portuguesa, podemos notar que as expressões em latim também estão presentes em algumas partes da realidade brasileira. No ambiente jurídico, por exemplo, muitas expressões em latim são utilizadas tanto em termos escritos quanto nos julgamentos em fóruns. Outro exemplo que pode ser lembrado são os nomes científicos do seres vivos estudados nas áreas biológicas. E, por fim, a importância do latim se revela nas pesquisas historiográficas da História do Brasil, ainda mais se as análises acontecerem mediante à leitura de jornais onde a maioria dos escritores exaltavam belas manifestações em latim. A isto também se compara o Jornal “O Sertanejo” de Barretos, em 1900, repleto de expressões calorosas em latim que demonstravam o que as entrelinhas queriam dizer.
            Porquanto, o latim jamais pode ser considerado uma língua “morta”, ao contrário, ele é presente em nosso idioma tanto em nossas meias palavras quanto em expressões tecnicamente importantes. Ele, o latim, sobrevive aos tempos modernos.

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 16 DE JULHO DE 2010.

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