quarta-feira, 29 de junho de 2011

ACADEMIA E ESCOLA: A TRADUÇÃO DA HISTÓRIA



ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 17 DE JUNHO DE 2011

“Mas, papai diga-me lá para que serve a História?”

            A frase acima compõe a primeira linha da introdução do livro “Apologia da História ou O Ofício do Historiador” escrito pelo historiador francês Marc Bloch. Os rascunhos do livro foram escritos em 1943 quando Bloch, por ser judeu, permanecia sob a guarda nazista. Foi morto em 1944 e sua obra foi anotada por seu filho primogênito Étienne Bloch e publicada pela primeira vez em 1949. Conta-se que Bloch escreveu esta obra de acordo com as leituras que estavam gravadas em sua memória.
            A pergunta pronunciada por seu filho, por mais ingênua que pudesse parecer, possui uma complexidade tamanha perante o objeto de estudo da história e o ofício do historiador. A intenção de Bloch era saber destrinchar estes conceitos, baseando-se na história da própria história, e, posteriormente, expô-los de maneira simples a ponto de uma criança conseguir compreender e absorver o conhecimento emanado pela história.
            Questões como estas podem parecer simples, mas, historiadores e discentes de História sabem como é trabalhoso estudar o conhecimento acadêmico e depois traduzi-lo no saber escolar. O distanciamento entre o que se aprende na academia e o modo como se ensina história na escola é um fator quase que “contraditório” no ofício do historiador e do professor de história. O que não quer dizer que não seja possível conciliar os dois papéis essenciais a ambos: o saber acadêmico e o saber escolar.
            Em 1929, os historiadores franceses Marc Bloch e Lucien Febvre publicaram a primeira edição da revista “Annales d'Histoire Économique et Sociale”. Por meio desta publicação, pode-se dizer que os rumos da historiografia e do ofício do historiador começaram a se modificar e novos horizontes foram vistos no campo histórico. A história não era mais restrita ao campo político, surgia a história social, econômica, demográfica, cultural e outras associadas às áreas da interdisciplinaridade. Com o desenrolar da primeira, segunda e terceira geração dos Annales, novas temáticas e fontes foram criadas pelos historiadores e determinados contextos foram revisados, pois até então a história tradicional e positivista cunhava todas as produções históricas.
            Enfim, revisões bibliográficas estão sendo feitas a todo momento para atualizar a historiografia e o ensino de História. Livros-didáticos contam com novas acepções a fim de mostrar ao aluno, além da valorização do aprendizado histórico, noções de temporalidades distintas e concomitantes, visões sob culturas diferentes e, sobretudo, a ideia de que o passado é o lugar do outro, sendo indispensável o julgamento de uma época com os olhos da época. Por um lado, o historiador, hoje, não se limita somente à academia, é necessário divulgar suas publicações à sociedade de modo a levar alguma aprendizagem; assim como o professor não se aparta mais da designação “professor pesquisador”, já que não há como ensinar história sem desvencilhá-la da pesquisa e do olhar do historiador. Apesar da temível distância, academia e escola, juntas e traduzidas, constituem o caminho para a disseminação de um passado que se mostra cada vez mais não tão distante.

(Artigo dedicado aos discentes de História da Faculdade Barretos)

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