ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 01 DE OUTUBRO DE 2019 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS
Entre tantos integrantes das duas
famílias fundadoras da cidade, Barreto e Marques, chama a atenção duas mulheres
que ficaram registradas nas narrativas memorialistas como figuras de exceção,
diferentes “de seu tempo”. Ficaram apelidadas popularmente como “Rita Parnaíba”
(filha caçula de Chico Barreto e Ana Rosa) e “Inácia Homem” (filha de Simão
Antônio Marques e Joaquina Cândida de Jesus).
Rita Maria de Jesus, a caçula do
casal Barreto, ganhou a alcunha de “Rita Parnaíba” por certa vez ter
atravessado o Rio Paranaíba (MG/GO) em uma jangada improvisada em direção à
Goiás. Tal travessia teria sido uma fuga, já que foi perseguida pela polícia e
condenada à prisão por Juri em Araraquara por conta de assassinato. Crime que
também teria cometido em terras goianas, por questões de terra e honra de
família. Existem episódios icônicos de Rita defendendo as mulheres da família. Nas
palavras do jornalista José Eduardo de Oliveira Menezes, transcritas por Osório
Rocha, Rita foi “a mulher mais valente e
desabusada que já pisou nestas paragens”. Era conhecida por dançar o
cateretê, cantar, festejar e ser fazendeira.
Já Inácia, filha dos Librina, era
notada com certo jeito “masculinizado” na aparência e nas atividades –
comparando-se à maioria das mulheres da época. Era capacitada em dirigir os
serviços da roça, correr os pastos, caçava, era dona de casa e administrava
fazenda. Era reconhecida em toda a região por seu trabalho em tecer e tingir
tecidos. Inclusive, tecia e tingia suas próprias roupas, tendo o costume de
usar calças azuis e um “robe” por cima, causando estranhamento à gente da
época. Consta-se também que foi casada, mas por sofrer violência do marido,
separou-se dele.
Em Rita e Inácia são sinalizadas
duas características interessantes para mulheres sertanistas como elas: a
independência e o reconhecimento dessa independência. Afinal, os relatos mostram-nas
como mulheres que enfrentavam os rótulos da época, bem como os preconceitos
velados e revelados, eram articuladas no trabalho e valentes.
Fonte:
ROCHA, Osório. Barretos de Outrora. São Paulo: Editora dos Tribunais, 1954, p. 24 e 33.
Link da publicação no site do jornal "O Diário":
Artigo original publicado no jornal "O Diário", 1/10/2019, página 2:
Nenhum comentário:
Postar um comentário