quarta-feira, 25 de março de 2020

ÀS MULHERES, O QUE REALMENTE IMPORTA


ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 10 DE MARÇO DE 2020 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS 

            Hoje escrevo como mulher, não no sentido biológico, e sim social – é preciso que essa diferença seja ressaltada. Desde 1949, em “O Segundo Sexo”, Simone de Beauvoir já dizia o óbvio: “Não se nasce mulher, torna-se”. Isto é, por todos os estímulos que recebemos desde a infância, nosso comportamento é determinado. Nosso “xx” biológico é também caracterizado pelo meio em que vivemos. Essa clássica reflexão da filósofa francesa sempre me vem à tona nas comemorações do Dia da Mulher; momento em que a figura feminina é homenageada pela sociedade (o meio).
            Algumas dessas homenagens se manifestam de maneiras diversas, como premiações, palestras, textos e músicas. Porém, sempre me incomodou as homenagens que rotulam as mulheres em certos estereótipos demarcados, como, por exemplo, imagens ligadas exclusivamente à maternidade, beleza, pureza e até sacralidade. São características que podem sim estar presentes à figura feminina, mas não como algo que generalize a essência da “mulher”. Afinal, ser “mulher” é algo que ultrapassa rótulos, visto a diversidade das funções que uma mulher exerce e dos espaços que ocupa.
            Todavia, há alguns anos, as homenagens estão mudando. Este ano, por exemplo, as professoras da escola dos meus filhos homenagearam as mulheres que usam lenço na cabeça por conta de tratamento de saúde – um olhar lindo que desmistifica que a mulher (princesa) não usa necessariamente coroa (e sim lenço). Vi faculdades promovendo palestras para mostrar a realidade dos dados sobre a violência contra a mulher, a insistente desigualdade salarial e todos os direitos que ainda precisam ser conquistados. Observei instituições particulares promovendo premiações para mulheres que se destacaram como empreendedoras dentro de suas áreas profissionais. É isso que querem as mulheres, homenagens traduzidas na vida feminina como ela é! Realidade, estatísticas, direitos, trabalho, força, poder de escolha – são essas as características que precisam agora determinar o que é “tornar-se” mulher. Beauvoir sempre esteve certa.

Nenhum comentário: