ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 10 DE MARÇO DE 2020 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS
Hoje escrevo como mulher, não no
sentido biológico, e sim social – é preciso que essa diferença seja ressaltada.
Desde 1949, em “O Segundo Sexo”, Simone de Beauvoir já dizia o óbvio: “Não se
nasce mulher, torna-se”. Isto é, por todos os estímulos que recebemos desde a
infância, nosso comportamento é determinado. Nosso “xx” biológico é também caracterizado
pelo meio em que vivemos. Essa clássica reflexão da filósofa francesa sempre me
vem à tona nas comemorações do Dia da Mulher; momento em que a figura feminina
é homenageada pela sociedade (o meio).
Algumas dessas homenagens se
manifestam de maneiras diversas, como premiações, palestras, textos e músicas. Porém,
sempre me incomodou as homenagens que rotulam as mulheres em certos
estereótipos demarcados, como, por exemplo, imagens ligadas exclusivamente à
maternidade, beleza, pureza e até sacralidade. São características que podem
sim estar presentes à figura feminina, mas não como algo que generalize a
essência da “mulher”. Afinal, ser “mulher” é algo que ultrapassa rótulos, visto
a diversidade das funções que uma mulher exerce e dos espaços que ocupa.
Todavia, há alguns anos, as
homenagens estão mudando. Este ano, por exemplo, as professoras da escola dos
meus filhos homenagearam as mulheres que usam lenço na cabeça por conta de
tratamento de saúde – um olhar lindo que desmistifica que a mulher (princesa)
não usa necessariamente coroa (e sim lenço). Vi faculdades promovendo palestras
para mostrar a realidade dos dados sobre a violência contra a mulher, a
insistente desigualdade salarial e todos os direitos que ainda precisam ser
conquistados. Observei instituições particulares promovendo premiações para
mulheres que se destacaram como empreendedoras dentro de suas áreas
profissionais. É isso que querem as mulheres, homenagens traduzidas na vida
feminina como ela é! Realidade, estatísticas, direitos, trabalho, força, poder
de escolha – são essas as características que precisam agora determinar o que é
“tornar-se” mulher. Beauvoir sempre esteve certa.
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