quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

SAMPA



ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 28 DE JANEIRO DE 2011.

            No último dia 25, terça-feira, a nossa capital e megalópole, São Paulo, completou 457 anos de fundação. Para celebrar e comemorar este “aniversário” parece estar na moda cantar e recitar a música “Sampa” de Caetano Veloso. Isto porque, além de agradável melodia, a letra da música revela certo saudosismo em relação às épocas passadas da cidade. São por essas e outras em que todos os anos, nesta época de aniversário da cidade, são recordados os momentos da história paulista e suas transformações. Seja na estrutura, nas ruas, nos prédios, no clima ou nas cores, o fato é que a grande São Paulo se transforma cada vez mais, tendo como resultado inovações positivas, bem como desvantagens aos habitantes e ao meio-ambiente.
            “Alguma coisa acontece no meu coração... que só quando cruza o Ipiranga e a Avenida São João, é que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi...”. Assim começa a música de Caetano, e, em uma leitura não tão profunda, baseada na pura percepção da poesia, verifica-se o choque de alguém que passou tempos longes de São Paulo e quando volta não reconhece mais seu lugar de origem. Embora a primeira impressão da letra da música seja esse “choque”, também é perceptível o sentimento de carinho que este “alguém” possui pelas ruas de São Paulo, algo que o coloca em consonância com a sua própria personalidade. Trocando em miúdos, é como se a antiga Vila de São Vicente ou a “quatrocentona” São Paulo tivesse, de repente, não mais que de repente, se transformado na moderna “Sampa”.
            Se pensarmos em 457 anos, vê-se que se trata de um período conjunto à história do Brasil. Política e socialmente, a história paulista compõe-se numa mistura de épocas que vêm desde o período pré-cabraliano, colonial, imperial a até o republicano. São 457 anos de resquícios de um povo mesclado pelos indígenas tupinambás, portugueses colonizadores, negros escravizados, imigrantes trabalhadores e demais culturas neste fervilhar que se denomina “São Paulo”. Nesse sentido, ao longo destes quatro séculos e meio, criou-se uma belíssima composição de patrimônios históricos materiais e imateriais que o crescimento urbano e a vida globalizada acabam por engolir.
            Como bem disse Caetano, foi a força da grana que ergueu e destruiu as coisas belas de São Paulo, que vão desde os casarões da época do café a até as capelinhas toscas reverenciadas por Mário de Andrade. No entanto, atualmente, muitas atividades culturais de preservação de patrimônio histórico são benquistas por manifestantes da iniciativa pública e privada. O resultado disso, econômico e culturalmente, é o crescimento do turismo museológico na capital paulista. Por essas e outras que os nossos parabéns para São Paulo serão destinados àqueles que compuseram e compartilham seus 457 anos: o Museu do Ipiranga, o Museu de Artes Sacras, a Pinacoteca, o Museu da Língua Portuguesa, a Praça da Sé, o Mosteiro de São Bento, o MASP e tantos outros que injustamente não cabem nesta singela homenagem. Á São Paulo e à “poesia discreta de tuas esquinas”, os nossos parabéns!  

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