ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 27 DE AGOSTO DE 2020 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS
Zé de Ávila, trovador e poeta, disse em seu “Ode a Barretos”, de 1989: “Não só peões e boiadeiros, / de outros naipes gente havia / por recantos costumeiros / transitando noite e dia”. Uma trova que, pequenina, retrata a amplitude que foi Barretos no passado. Referia-se ele à cidade no início de sua formação urbana, um lugarejo que surgiu de um arraial sertanejo e décadas depois já chamava a atenção nacional frente seu potencial econômico da pecuária. Fator este que justifica a pluralidade da sua gente.
Barretos é resultado de uma
integração de povos, cuja migração aconteceu em fases diferentes. Em 1830, o
povoado inicial formou-se pela migração de entrantes mineiros, haja vista a
procedência dos Barretos e dos Librina. Mineiros que, transpondo o Rio Grande, abriram
picadas de matas virgens dessa ponta nordeste de São Paulo, e fixaram moradia
no vale dos ribeirões que hoje cortam os asfaltos do centro. A relação com
Minas Gerais ainda se reafirmava no final do século XIX, quando a pecuária já
era uma atividade expressiva na recente comarca e as transações com o Triângulo
Mineiro estavam veementes. O velho jornal “O Sertanejo” noticiava as idas e
vindas de personagens de cá para lá (Frutal, Uberaba, Santa Rita de Sapucaí).
A mesma pecuária foi fator para
atração de outros grupos, vindos de diferentes estados e cidades paulistas,
rumo à “Chicago brasileira”. Muitos destes personagens, no início do século XX,
eram graduados em universidades e possuíam profissões liberais. Aos poucos,
Barretos dotava-se de tipografias de jornais, escritórios de advogados, escolas
particulares, consultórios médicos e dentários, ateliês fotográficos e casas
comerciais. Não tardou para que esse grupo, alinhado com o republicanismo, tomasse
as rédeas da política local, ocupando as cadeiras da Câmara, da Prefeitura e
participando das instituições que surgiam. Ao olhar as assinaturas dos artigos
de jornais, das atas das entidades e as fotografias amareladas deste tempo,
encontram-se sempre os mesmos nomes e rostos. Hoje, estampados como nome de
escolas e ruas.
Por
outro lado, o frigorífico, de 1913, trouxe para a cidade os imigrantes,
servindo-se, principalmente, como classe operária de suas máquinas industriais.
Italianos, portugueses, espanhóis, lituanos e romenos, diversificavam ainda
mais a mistura social que era Barretos, habitando especialmente o bairro “Outro
Mundo”. Os imigrantes também estavam presentes nas atividades liberais, como
professores, engenheiros e arquitetos. Aliás, a arquitetura de estilos
estrangeiros vigente nos casarões e palacetes centrais era o que modernizava o
ar daquela cidade de origem caipira, que tentava marcar sua posição avançada no
mapa do estado e do país.
Junto
a esta miscelânea de gente, trilhava as ruas de terra seca os peões de boiadeiro,
os quais, vindos das comitivas, em seus cavalos e mulas, de chapéus, botas e
largas vestimentas, circulavam na cidade, reafirmando o sertanismo local. A
figura do peão era constante em qualquer década daquele passado, era o que
marcava a identidade da cidade. Tanto que se tornou inspiração para músicas e
personagem icônico da primeira festa popular organizada pela Prefeitura para
caracterizar a cidade.
Naquela transição de séculos,
Barretos era um local isolado, distante da capital, almejando uma estação de
trem, mas já atraente para novos moradores – nossos antepassados. O fato é que,
nestes 166 anos, outros tantos momentos serviram como fases de impulso para “novos
barretenses”. Barretos sempre será um mosaico de gente, é terra de gente
diversa, como já disse o mesmo poeta: “És o lugar bom e lindo / com que eu
vivia sonhando / e ao que um dia acabei vindo / e por ter vindo ficando”.
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