domingo, 13 de setembro de 2020

FOTOGRAFIAS E SEUS USOS – PARTE I

 ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 28 DE JULHO DE 2020 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS 

            Fotografias são apaixonantes, é claro. Eternizam momentos, cenários e rostos, como se fossem capazes de viajar por uma máquina do tempo trazendo à tona pessoas e paisagens. Pelo olhar do fotógrafo, repleto de intencionalidades, uma fotografia antiga é parceira fiel numa pesquisa de História. Isso porque ela não só evidencia informações visíveis sobre como era um local ou as características das pessoas, mas também torna-se fonte para se entender a mentalidade de certa época a partir do objetivo de seu autor, do local onde foi publicada, por quem foi comprada, onde foi exposta e assim por diante.

            Na História, uma fotografia não é somente uma fotografia. É uma fonte. E fecunda. Naturaliza e desnaturaliza ideias.

            Isso é bem visível em meu livro recém lançado, “De onde cantam as cigarras”, pois, durante as pesquisas, encontrei fotografias de personalidades e paisagens de Barretos no início do século XX em jornais e revistas de expressiva circulação nas capitais do Brasil e do estado de São Paulo. Como exemplo, a fotografia da quermesse realizada em 1911 em benefício da criação da biblioteca do Grêmio Literário e Recreativo, que acontecia no Jardim Público da cidade, publicada na revista carioca “O Malho” do Rio de Janeiro. Na imagem, além de aparecer personagens conhecidos da imprensa local (inclusive, Almeida Pinto) e professoras, a legenda enaltecia os feitos culturais da tão distante Barretos. Algo semelhante do ocorrido em 1920 com a publicação de fotografias na revista paulista “A Cigarra”, as quais estamparam a visita do escritor Coelho Netto ao Grêmio e às residências de seus amigos em Barretos; cujo teor destacava a cidade como destino de interlocuções literárias. As imagens e suas redações, enviadas pelos próprios barretenses aos seus mediadores da grande imprensa, serviam como suporte de evidência de modernidade à “cidade do boi”, que precisava mostrar beleza e erudição, em contrapartida de sua fama de violenta, isolada e boca do sertão. [continua].

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