sexta-feira, 4 de junho de 2010

OS TIMBIRAS E A CIVILIZAÇÃO


            Existe sempre um meio de fantasias para explicar a realidade a nossa volta. Se hoje ainda persistimos nisso, imagine no Brasil antes de quinhentos anos atrás? Sem contato com a cultura européia, as explicações dos nativos brasileiros eram obtidas através dos mitos de origem baseados em elementos da natureza, dos animais, forças divinas e mágicas. Sabemos, pois, que a crença em tais mitos só era possível por conta da tradição oral, assim, as forças dos mitos de origem jamais se afrouxavam, já que o respeito à tradição era a base das sociedades indígenas. Um destes mitos de origem, contado pela etnia Jê-timbira do Maranhão, explica o surgimento do homem branco e da civilização. Como a melhor forma de se contar um mito sempre foi a tradição oral, conforme fica na memória, é assim que me esforço a fazer...
            Uma moça timbira chamada Amcukwéi estava grávida e, certo dia, começou a ouvir o grito de um preá, logo percebeu que o grito vinha de seu interior e era seu filho querendo vir ao mundo. Neste momento, a moça prometeu: “se fores menina eu te criarei, se fores menino eu te matarei”. Amcukwéi foi sozinha para a floresta e lá nasceu um menino, em seguida, a moça timbira cumpriu sua palavra e enterrou o filho vivo. A avó da criança, desesperada, pediu a filha que lhe contasse onde enterrou o menino porque ela o criaria, e assim o fez. O menino, de nome Aukê, cresceu rapidamente e era portador de poderes especiais, tinha o dom de se transformar em qualquer coisa. Por causa disso, ele virou alvo de desdenha e seu tio também queria matá-lo, no entanto, o menino sempre conseguia se salvar já que tinha o poder de transformação. Acreditando na morte do menino, a família de Aukê abandonou a aldeia e foi morar bem longe. Tempos depois, quando os chefes da aldeia foram buscar as cinzas do menino, descobriram que ele tinha se transformado em um homem branco e construído uma fazenda de criação de animais, chamando sua família para voltar a morar com ele.
            O desfecho deste mito é contado de várias maneiras. Em alguns livros, Aukê oferece aos índios o “arco” ou a “espingarda”, e estes continuam com o arco não aceitando tornaram-se “civilizados”. Isto é, na tentativa de explicar o aparecimento repentino dos brancos, para os timbiras, o homem branco surgiu do seu próprio povo e a civilização oferecida a eles foi negada por muitos. Já para a historiadora Lilia Schwarcz, o mito dos timbiras aponta Aukê como a figura do Imperador Dom Pedro II, ou seja, o “Pai dos Brancos”, aquele que trouxe a civilização à terra brasileira.
            Nesse sentido, são várias as interpretações que se pode retirar deste mito de origem, sempre identificando os símbolos mágicos, naturais e divinos que representam a principal característica dos mitos indígenas: a fantasia. Qual seria a sua interpretação, caro leitor? Se prestarmos mais atenção nestes contos dos nativos brasileiros, que aqui habitavam antes dos portugueses, certamente a História do Brasil será melhor reconstruída com fontes históricas próprias que só os indígenas poderiam nos oferecer.
             
ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP), EM 03 DE JUNHO DE 2010.

Um comentário:

Parcos Maulo disse...

Genial seu blog, pequena grande prima! Adorei mesmo... Sua escrita é uma celebração ao pensamento! Espero poder arranjar mais tempo para poder ler todo seu material.
Que orgulho que me dá! hehehe...
Quanto ao blog de seus alunos, não desista não. Água mole e pedra dura...
Qualquer coisa tamos ae!
Bejaum