ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª ESP. KARLA O. ARMANI, EM 16 DE DEZEMBRO DE 2012, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS"
Não costumo escrever artigos em 1ª
pessoa, pois prezo sempre pela informação histórica e por isso prefiro escrever
no modo dissertativo. Porém, dado a exceções, hoje escrevo de tal maneira para
expressar minha satisfação em ter composto uma monografia de pós-graduação com
o tema referente aos valores religiosos e científicos mantidos na Santa Casa de
Misericórdia de Barretos nos anos 1920. Acredito, então, que ter conseguido
levar a história da Santa Casa de Barretos para o cenário acadêmico é um fato
que merece ser divulgado aos meus leitores.
Há mais de dois anos pesquiso a
Santa Casa, mais especificamente sobre a criação do hospital no final da década
de 1910, a inauguração em 1921 e seu funcionamento nos anos 1920 e 1930.
Trata-se de um período social, cultural e politicamente interessante tanto para
a República brasileira, quanto para a própria cidade de Barretos, que passava
por um processo de modernização; porém, ainda atrelado a um arcaismo religioso.
E foi justamente esta contradição, entre modernidade e tradição, que me moveu a
problematizar esta questão na própria Santa Casa.
Analisando as fontes históricas
(jornais, fotografias, atas e documentos oficiais), eu pude perceber que
enquanto a modernidade era representada no hospital pelos médicos e políticos
republicanos locais (membros das mesas administrativas), a tradição se via
presente nas figuras dos padres e das irmãs franciscanas. Mas não eram só os
personagens que representavam esta ambivalência: por um lado, as missas, as
visitas pastorais e a edificação da Capela de Santa Isabel (1932) propagavam o
cristianismo; mas, por outro, a arquitetura, a disposição dos cômodos no espaço
hospitalar e a inspeção sanitária faziam vigorar ali os preceitos da ciência e
do discurso médico-sanitarista da Primeira República. É vísivel, portanto, que
a Santa Casa não era só um hospital, era também um lugar de sociabilidade, isto
é, de garantia da difusão de ideais à sociedade, fossem eles cristãos, médicos
e científicos ou, ainda, republicanos.
O mais interessante do trabalho foi
a anáise do “livro de visitantes” do hospital. Analisei todas as mensagens dos
visitantes de 1921 a 1931 e ali também verifiquei a vigência dos valores
religiosos (“caridade”) e modernos (“ciência”). Inclusive, foi por conta das
expressões “caridade” e “ciência”, tão presentes no livro, que escolhi como
título do meu trabalho: “Caridade e
Ciência: sociabilidade e poder na Santa Casa de Misericórdia de Barretos-SP,
1921/1931”; cuja orientação foi do Prof. Dr. Humberto Perinelli Neto
(também estudioso sobre Barretos na Primeira República).
Logo, foi assim que conseguimos
compor uma pesquisa histórica que não teve a intenção de estudar a Santa
Casa, mas a “caridade” e a “ciência” por meio da Santa Casa; como um
trabalho inspirado na teoria da micro-história.
Uma parte da história de Barretos na
academia.
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