quarta-feira, 29 de julho de 2015

PRÉ-HISTÓRIA QUE TEM HISTÓRIA

ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª ESP. KARLA O. ARMANI, EM 13 DE JANEIRO DE 2013, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS"

            Leitor amigo, você também aprendeu na escola que o período anterior à invenção da escrita é chamado de Pré-História? Você já parou para pensar o que está por trás desta denominação? Vamos refletir um pouco sobre isso afim de entendermos como que a própria História é uma construção de uma dada época e se transforma conforme a cultura, o presente, os estudos, as prioridades, as necessidades e a interpretação dos historiadores que a escrevem.
            Para transformar o saber histórico mais didático, ainda se usa na sala de aula aquela divisão tradicional da ciência histórica: a Pré-História como a idade da “pedra”, das “cavernas” até a criação da escrita, e a História como o período de desenvolvimento dos registros escritos até os dias atuais. Porém, hoje, esta visão é debatida pelos historiadores e professores uma vez que ela gera as seguintes reflexões: Se no período da Pré-História não havia escrita, os homens que ali viveram não tem História? Se a História estuda as ações do homem em sociedade ao longo do tempo (sendo este tempo desde a origem da humanidade), porque os homens daquele período são “pré”-históricos, isto é, “não”- históricos?
            Na verdade essa visão tradicional de divisão histórica advém dos tempos da história metódica e positivista do século XIX, o século da “ciência”. Nesta época, os historiadores buscavam a “realidade” pretérita por meio de uma História escrita com documentos oficiais e por si só reveladores do passado. Esta concepção de que a História era somente escrita com documentos que foi essencial para tornar tradicional a divisão entre Pré-História e História. Uma prova disso é o trecho abaixo, retirado da obra “Compêndio de História Universal: História Antiga e Medieval” do escritor Antônio Gonçalves Mattoso, que apesar de ter a 3ª edição em 1957, ainda se concebia nos preceitos tradicionais: “As inscrições e os livros são o que nós chamamos de documentos escritos. Sem êstes documentos não é possível escrever a História. A História começa, pois, apenas na altura em que foi inventada a escrita. [...]. No passado da Humanidade distinguem-se, desta forma, duas grandes seções: - Uma, muito longe e obscura, e anterior à invenção da escrita – tempos pré-históricos; outra, muito mais recente, que começa coma invenção da escrita – tempos históricos” (sic). Percebe-se, sobretudo, a menção da Pré-História como um período “obscuro”, isto é, sem luz, sem informações, sem escrita, sem história.
            Porém, a Pré-História está longe da obscuridade, afinal, nos tempos atuais os historiadores a estudam com base nos vestígios materiais e arqueológicos que se perpetuaram ao longo do tempo. A partir do século XX, houve uma ampliação no que se considerava “fontes históricas” e os instrumentos de paus e pedras, as ferramentas de trabalho, os monumentos megalíticos e a arte rupestre das cavernas passaram a ser importantes fontes para o estudo do período que ainda teimamos de chamar de “Pré-História”. Uma Pré-História que tem história.

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