ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª ESP. KARLA O. ARMANI, EM 13 DE JANEIRO DE 2013, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS"
Leitor amigo, você também aprendeu
na escola que o período anterior à invenção da escrita é chamado de
Pré-História? Você já parou para pensar o que está por trás desta denominação?
Vamos refletir um pouco sobre isso afim de entendermos como que a própria
História é uma construção de uma dada época e se transforma conforme a cultura,
o presente, os estudos, as prioridades, as necessidades e a interpretação dos
historiadores que a escrevem.
Para transformar o saber histórico
mais didático, ainda se usa na sala de aula aquela divisão tradicional da
ciência histórica: a Pré-História como a idade da “pedra”, das “cavernas” até a
criação da escrita, e a História como o período de desenvolvimento dos
registros escritos até os dias atuais. Porém, hoje, esta visão é debatida pelos
historiadores e professores uma vez que ela gera as seguintes reflexões: Se no
período da Pré-História não havia escrita, os homens que ali viveram não tem
História? Se a História estuda as ações do homem em sociedade ao longo do tempo
(sendo este tempo desde a origem da humanidade), porque os homens daquele
período são “pré”-históricos, isto é, “não”- históricos?
Na verdade essa visão tradicional de
divisão histórica advém dos tempos da história metódica e positivista do século
XIX, o século da “ciência”. Nesta época, os historiadores buscavam a
“realidade” pretérita por meio de uma História escrita com documentos oficiais
e por si só reveladores do passado. Esta concepção de que a História era
somente escrita com documentos que foi essencial para tornar tradicional a
divisão entre Pré-História e História. Uma prova disso é o trecho abaixo,
retirado da obra “Compêndio de História Universal: História Antiga e Medieval”
do escritor Antônio Gonçalves Mattoso, que apesar de ter a 3ª edição em 1957,
ainda se concebia nos preceitos tradicionais: “As inscrições e os livros são o que nós chamamos de documentos
escritos. Sem êstes documentos não é possível escrever a História. A História
começa, pois, apenas na altura em que foi inventada a escrita. [...]. No
passado da Humanidade distinguem-se, desta forma, duas grandes seções: - Uma,
muito longe e obscura, e anterior à invenção da escrita – tempos
pré-históricos; outra, muito mais recente, que começa coma invenção da escrita
– tempos históricos” (sic).
Percebe-se, sobretudo, a menção da Pré-História como um período “obscuro”, isto
é, sem luz, sem informações, sem escrita, sem história.
Porém, a Pré-História está longe da
obscuridade, afinal, nos tempos atuais os historiadores a estudam com base nos
vestígios materiais e arqueológicos que se perpetuaram ao longo do tempo. A
partir do século XX, houve uma ampliação no que se considerava “fontes
históricas” e os instrumentos de paus e pedras, as ferramentas de trabalho, os
monumentos megalíticos e a arte rupestre das cavernas passaram a ser
importantes fontes para o estudo do período que ainda teimamos de chamar de
“Pré-História”. Uma Pré-História que tem história.
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