domingo, 9 de dezembro de 2012

O EXÉRCITO, A HISTÓRIA E A MÍDIA


ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª ESP. KARLA O. ARMANI, EM 2 DE DEZEMBRO DE 2012, NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS"


            No último dia 26 de novembro um fato inédito aconteceu no Exército do Brasil: uma mulher conquistou um cargo de oficial general das Forças Armadas. Dalva Maria Carvalho Mendes recebeu a patente de “Contra-Almirante” da Marinha depois de muitos anos de serviços prestados ao exército. Formada em medicina, Dalva fez parte da primeira turma do corpo auxiliar feminino de oficiais da Marinha do Brasil de 1981.
            Este fato atraiu muito a atenção da mídia brasileira pelo “brilho” da patente da contra-almirante e também pelo fato de tal cargo ser destinado a uma mulher. Esta notícia causa tanto entusiasmo pelo fato do Exército ser historicamente associado a figuras masculinas. Deste modo, o recebimento de tal patente numa instituição que até então era predominantemente masculina, representa a evolução e as conquistas da mulher não só no lado profissional, bem como no aspecto social e cultural da comunidade brasileira.
            Tal novidade na Marinha desperta-nos a lembrança de outro episódio ocorrido há mais de cem anos atrás no Rio de Janeiro; a Revolta da Chibata. Ao contrário da relevância dada a primeira mulher “contra-almirante” da Marinha na atualidade, a Revolta da Chibata parece não ser reconhecida pela instituição. Especula-se que, esta posição do exército assim se deu por conta deste conflito ter sido iniciado pelos marinheiros; então componentes de cargos rasos da Marinha.
            Era 22 de novembro de 1910, no Rio de Janeiro, quando os marinheiros tomaram alguns “couraçados” da Marinha e ameaçaram bombadear a capital do Brasil; que na época contava com estimados 900 mil habitantes. Sob a liderança de João Cândido, o “Almirante Negro”, os marinheiros protestavam diante às punições da “chibata” que recebiam, a péssima alimentação e os maus-tratos. Mais de 2.300 marinheiros participaram desta revolta, que contava com a tomada de pelo menos quatro grandes navios da Marinha brasileira. Depois de alguns dias de tensão por parte dos revoltosos e dos civis cariocas, o governo brasileiro aprovou as reivindicações dos marinheiros e a lei de anistia. No entanto, pouco tempo depois, a lei foi revogada e novos confrontos começaram; o que resultou em massacre, prisões e exílio de marinheiros.
            Segundo algumas fontes, este episódio não é reconhecido pela Marinha do Brasil, porém, os livros didáticos de História já o tomaram como parte importantíssima do contexto histórico da Primeira República no Brasil. As vozes dos marinheiros, última instância na Marinha do Brasil, estão sendo estudadas e disseminadas na história do povo brasileiro. Inclusive, a mídia televisiva está apresentando este episódio como “pano de fundo” da atual novela das seis da Rede Globo; “Lado a Lado”.
            Que a relevância que foi dada a primeira mulher general oficial das Forças Armadas do Brasil também seja estendida ao levante dos marinheiros de 1910. Afinal, independente de gênero e “altura” das patentes, todos os configurados do exército, em especial àqueles que lutaram por melhorias e conquistas, são de fato importantes à instituição e à história do Brasil! 

Nenhum comentário: