ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª ESP. KARLA O. ARMANI, EM 7 DE OUTUBRO DE 2012 NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS"
“Cada povo tem o
governo que merece, e o nosso, por enquanto, ainda não se mostrou digno de o
ter melhor. Quem o afirma, é um republicano” (O Sertanejo, 15/9/1901)
A citação acima é parte de uma
reportagem do jornal “O Sertanejo” de Barretos, escrita nos primeiros anos da
República brasileira. A reportagem inteira remete ao pensamento de “desilusão”
que os “republicanos históricos” (aqueles que lutaram pela República no Brasil
desde a época do Império) estavam sentindo em relação ao que tinha se tornado
aquele que era para ser o “governo do povo”. Sabemos que a República brasileira
foi proclamada pela soberana vontade da elite agrária e dos militares, muito
distante do povo. Por isso, a falta de participação popular, as fraudes e a
corrupção vigentes naquele período desiludiam aqueles republicanos que, de
fato, acreditavam na força da República. E, segundo a reportagem, se o povo não
lutava para mudar esta situação, era então merecedor daquele governo corrompido
e “degolador”.
Esta reflexão nos permite alcançar os
dias atuais. Diferente dos outros países latinos, o povo brasileiro não participou
e nem lutou em episódios importantes de sua história, como a Independência do
Brasil e a sua Proclamação da República. E isso talvez tenha repercutido nos
dias de hoje, principalmente no momento em que o eleitor se depara com as
urnas. Afinal, alguns cidadãos brasileiros simplesmente ignoram o processo
eleitoral, não refletem sobre as propostas e a trajetória dos candidatos e
insistem em dizer que são “apolíticos”.
Apolíticos? Se o próprio cidadão, que é
o maior beneficiário (ou, sob outro ponto de vista, o prejudicado) pela
representação de sua vontade na política, não se interessar por isso, quem irá
se interessar?
Quando a República foi instalada no
Brasil, houve a ampliação do conceito de “cidadão” (ainda excluindo os
analfabetos, mulheres, etc), mas o voto ainda continuou indireto. Pelo menos
até o final da década de 1940, os cidadãos brasileiros votavam primeiro nos
vereadores e depois os mesmos elegiam um deles como prefeito. Isso se tornou
mais complexo na Era Vargas, onde os interventores do estado nomeavam os
prefeitos, já que as Câmaras Municipais tinham sido dissolvidas. Simplesmente,
não havia eleições. Barretos foi um exemplo disso, já que na década de 30 foram
nomeados onze prefeitos!
Logo, mesmo o povo não tendo tanta
participação nas lutas pelas mudanças políticas do Brasil (Independência e
República), a história republicana demonstra que a cidadania no Brasil galgou
longos passos até chegar nas urnas de hoje. Por isso, o brasileiro deve
refletir muito bem antes de “descartar” seu voto, que tanto demorou a ser
conquistado. Brasileiro não tem que ser “apolítico”, deve antes colocar a
política como uma ferramenta de transformação e representação. Refletemos.
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