domingo, 9 de dezembro de 2012

REPÚBLICA: O POVO E A POLÍTICA


ARTIGO PUBLICADO PELA PROFª ESP. KARLA O. ARMANI, EM 7 DE OUTUBRO DE 2012 NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS"


“Cada povo tem o governo que merece, e o nosso, por enquanto, ainda não se mostrou digno de o ter melhor. Quem o afirma, é um republicano” (O Sertanejo, 15/9/1901)
A citação acima é parte de uma reportagem do jornal “O Sertanejo” de Barretos, escrita nos primeiros anos da República brasileira. A reportagem inteira remete ao pensamento de “desilusão” que os “republicanos históricos” (aqueles que lutaram pela República no Brasil desde a época do Império) estavam sentindo em relação ao que tinha se tornado aquele que era para ser o “governo do povo”. Sabemos que a República brasileira foi proclamada pela soberana vontade da elite agrária e dos militares, muito distante do povo. Por isso, a falta de participação popular, as fraudes e a corrupção vigentes naquele período desiludiam aqueles republicanos que, de fato, acreditavam na força da República. E, segundo a reportagem, se o povo não lutava para mudar esta situação, era então merecedor daquele governo corrompido e “degolador”.
Esta reflexão nos permite alcançar os dias atuais. Diferente dos outros países latinos, o povo brasileiro não participou e nem lutou em episódios importantes de sua história, como a Independência do Brasil e a sua Proclamação da República. E isso talvez tenha repercutido nos dias de hoje, principalmente no momento em que o eleitor se depara com as urnas. Afinal, alguns cidadãos brasileiros simplesmente ignoram o processo eleitoral, não refletem sobre as propostas e a trajetória dos candidatos e insistem em dizer que são “apolíticos”.
Apolíticos? Se o próprio cidadão, que é o maior beneficiário (ou, sob outro ponto de vista, o prejudicado) pela representação de sua vontade na política, não se interessar por isso, quem irá se interessar?
Quando a República foi instalada no Brasil, houve a ampliação do conceito de “cidadão” (ainda excluindo os analfabetos, mulheres, etc), mas o voto ainda continuou indireto. Pelo menos até o final da década de 1940, os cidadãos brasileiros votavam primeiro nos vereadores e depois os mesmos elegiam um deles como prefeito. Isso se tornou mais complexo na Era Vargas, onde os interventores do estado nomeavam os prefeitos, já que as Câmaras Municipais tinham sido dissolvidas. Simplesmente, não havia eleições. Barretos foi um exemplo disso, já que na década de 30 foram nomeados onze prefeitos!
Logo, mesmo o povo não tendo tanta participação nas lutas pelas mudanças políticas do Brasil (Independência e República), a história republicana demonstra que a cidadania no Brasil galgou longos passos até chegar nas urnas de hoje. Por isso, o brasileiro deve refletir muito bem antes de “descartar” seu voto, que tanto demorou a ser conquistado. Brasileiro não tem que ser “apolítico”, deve antes colocar a política como uma ferramenta de transformação e representação. Refletemos.

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