terça-feira, 5 de abril de 2011

ALTHAYR PEREIRA: DE REPENTE PROVEDOR



ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI NA REVISTA"AÇÃO E VIDA" EM 3 DE ABRIL DE 2011

Althayr Pereira, provedor da Santa Casa na década de 70, conta como curiosamente assumiu e administrou a provedoria em uma época conturbada pela política e pelas dificuldades de um hospital cheio de desafios. Eram outros tempos...

            Na década de 70, a Santa Casa de Misericórdia de Barretos encontrava-se num período de transição, que por um lado era representado pela comodidade de um novo pavilhão construído nos anos 60, mas por outro apresentava dificuldades na organização de atendimentos devido ao grande número de indigentes e ao falho auxílio governamental. Foi com este cenário que Althayr Pereira, um distinto comerciante na época, assumiu a Provedoria da Santa Casa e por lá ficou durante quatro anos.
            Althayr Pereira, filho de lavradores, nasceu em Olímpia no dia 11 de maio de 1931. Cresceu e estudou em Barretos, lugar onde se casou com a sra. Maraiza Campos Pereira, com quem tem cinco filhos e completa cinquenta e seis anos de casados. Em Barretos atuou em vários setores profissionais e ficou conhecido no ramo do comércio, pois foi proprietário de lojas de veículos e de distribuidora de bebidas. E então, como esse comerciante chegou a ser provedor da Santa Casa?
            “Minha história com a Santa Casa começou quando fui mesário nas administrações do Pedro Falco e do Lourival Ribeiro de Mendonça. Naquele tempo era diferente, o provedor formava uma comissão que era composta pelo prefeito, pela autoridade eclesiástica e mais uma pessoa que fazia parte da Mesa, e essas três pessoas eram encarregadas de indicar um nome para ser provedor. Mas, no meu caso foi diferente... eu estava trabalhando, tocando a minha vida, e houve um problema na Santa Casa, porque o Seu Lourival indicou o candidato dele para ser provedor, mas um outro grupo contestou e não aceitou a indicação feita por ele. Depois, outras pessoas foram indicadas, mas também houve contestação e isso virou uma questão muito séria. E eu estava quieto no meu canto, nem tomando conhecimento do que estava acontecendo, quando de repente o meu nome foi indicado e acabou sendo aceito por ambas as partes. Meu amigo Mélek Zaiden Geraige, prefeito na época, me ligou para conversamos e ele mesmo me deu a notícia, pedindo que eu aceitasse o cargo, mas eu lutei em não aceitar porque eu precisava cuidar da minha família e dos meus negócios. No entanto, ele insistiu tanto que eu acabei aceitando e assumi a Santa Casa”, explicou o ex-provedor.   
            Paralelo a isso, Althayr esclarece que a cidade vivia um período de turbulência na política, uma vez que era vigente o regime militar e dois partidos adversários dominavam as relações sociais da época. Não obstante, esse fervilhar político também se propagava na administração da Santa Casa e, como alternativa de pacificação entre as partes, Althayr, ao assumir a provedoria, resolveu convidar membros de outras facções políticas para fazer parte da Diretoria, pois o que estava em jogo era o futuro do hospital. Foi então que ao lado dos seus companheiros de Diretoria, Ruy Menezes, Kamel Lian, Clovis Junqueira Nogueira e o diretor-clínico José Faleiros de Almeida; Althayr estabeleceu uma administração que priorizou pelo trabalho conjunto entre funcionários, a classe médica e a mesa administrativa, caracterizando o que ele denominou de “três direções do hospital”.
            A provedoria de Althayr perdurou nos anos de 1977-1978 a 1979-1980, e neste período muitas dificuldades apareceram e conquistas foram realizadas. Segundo o próprio Althayr: “Naquele tempo tinha o INPS e a Santa Casa recebia por esse órgão, mas ele atrasava quatro ou cinco meses para pagar e isso dificultava muito as coisas. Nesse período, os médicos recebiam pela Santa Casa os seus honorários, mas não recebiam pelos 40% dos indigentes que atendiam. Naquela época o hospital era realmente de Misericórdia. Além disso, existiam as enfermarias coletivas... quando eu cheguei à Santa Casa e vi os doentes indigentes desfrutando indevidamente do mesmo espaço e, muitas vezes, sem assistência, eu logo pensei que essa situação tinha que acabar, então eu disse: -Vamos acabar com essa enfermaria e misturar os doentes que não pagam com os que pagam, porque assim eles também terão assistência. Hoje posso conscientemente dizer que, se eu não tivesse feito nada para a Santa Casa, só o fato de ter feito uma nova enfermaria já me realizava pelo tempo que fiquei por lá”.
Outro fator de suma importância na administração de Althayr Pereira e que ele recorda memoravelmente foi a inauguração do CTI (Centro de Terapia Intensiva), hoje conhecido como UTI. De acordo com o ex-provedor, existia um espaço no hospital que era para ser dedicado ao CTI, mas ele não funcionava por conta do alto custo de seus equipamentos. Althayr destaca que, apesar de ser algo quase inexistente no interior daquela época, a Santa Casa tinha necessidade de ter o CTI em funcionamento.  Mesmo com alguns contratempos, Althayr e seus companheiros de Mesa Administrativa e Diretoria Clínica conseguiram transformar aquele espaço no CTI e manter seus equipamentos e instalações. Logo, a solenidade de inauguração do CTI foi registrada em fotografias da época (que ilustram esta matéria) e com mensagens deixadas no “livro de visitantes” pelos diretores da Federação das Misericórdias, a qual Althayr também participava. A mensagem registrada no ano de 1977 e assinada pelo presidente e vice-presidente da Federação das Misericórdias assim dizia: “Nesta oportunidade de inauguração do CTI e o 4º Encontro Regional das Misericórdias temos a satisfação de verificar o alto grau de padrão desta instituição (...)”.
Ainda mais, na gestão de Althayr Pereira foi terminada a Capela de Santa Isabel, que hoje fica no primeiro andar do prédio velho. O ex-provedor, atualmente, ficou conhecido como um grande aglutinador de colaboradores da Santa Casa e sobre isso ele ressalta: “Como fazíamos um trabalho sério, nós conseguimos aderir muitos colaboradores, inclusive a própria comunidade que se tornou o principal deles. As pessoas ajudavam com coisas pequenas, mas eram colaborações importantes naquela época, porque só o fato delas procurarem a Santa Casa e oferecer o que podiam era muito gratificante”. 
As palavras finais de Althayr resumem como foi seu posicionamento como provedor e seu relacionamento com os funcionários e a comunidade, tudo diante às circunstâncias da época: “No momento em que fui provedor, a provedoria funcionava de portas abertas e eu sempre fazia reuniões com funcionários e médicos. Posso dizer abertamente que deixei a Santa Casa sem dívidas e nunca atrasei pagamento de funcionários. Fiz inúmeras viagens a Brasília e a São Paulo. Em Brasília, o ministro da Saúde, dr. Paulo de Almeida Machado, era meu amigo e também do Dom Mucciolo, mas infelizmente não conseguimos nenhuma ajuda financeira para o hospital. O Dom Mucciolo ajudou muito na minha administração. Falando então em ajudas e agradecimentos, não poderia me esquecer do nosso querido Padre Gabriel, que em todas as manhãs celebrava as missas às 6hs e também das abnegadas irmãs Angélica, Lucia, Laura, Brígida, Hermínia e outras que também eram verdadeiras missionárias. Tivemos algumas voluntárias como Edy Bonatelli Moni, que todos os dias colocava em cada quarto mensagens cristãs de otimismo e solidariedade. Tive muito apoio dos diretores clínicos dr. José Falleiros de Almeida e dr. Ruy Menezes Júnior, além do prefeito da época, Melek Zaiden Geraige. Enfim, meus agradecimentos a todos os funcionários da Santa Casa na pessoa do sr. Magrini e sua esposa, bom pedreiro e um grande homem. Não esquecendo também da minha esposa Maraiza, minha companheira em tudo que faço, sem ela não sou ninguém”, finaliza Althayr.
Muitas conquistas se estabeleceram nos quatro anos de provedoria do sr. Alhtayr Pereira, um comerciante que de início não queria aceitar o compromisso de ser provedor, mas, que, de repente, não só aceitou, como foi bem recebido pela comunidade e até hoje desfruta de prestígio e fama de honestidade entre os seus. Por fim, a sensação que ele diz ter e que resume em poucas palavras é: “dever cumprido”.

REFERÊNCIAS: Entrevista com Althayr Pereira no dia 18/1/2011. Pesquisas em atas e no livro de visitantes da Santa Casa de Barretos.   

      

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