ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI NA REVISTA "AÇÃO E VIDA DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE BARRETOS" EM 3 DE ABRIL DE 2011.
“Se alguém colhe um grande ramalhete de narrativas orais, tem pouca coisa nas mãos. Uma história de vida não é feita para ser arquivada ou guardada numa gaveta, como coisa, mas existe para transformar a cidade onde ela floresceu”.
Ecléa Bosi
Qual é o valor histórico que a Santa Casa de Barretos representa em sua vida? O que você tem a contar sobre momentos que vivenciou no hospital? Conhece alguém que dedicou parte da vida em trabalho para a instituição? Quais são suas lembranças sobre os antigos administradores e funcionários? Como a sua memória pode colaborar com a construção da história da Santa Casa?
Todas estas perguntas têm por finalidade constituir os noventa anos da Santa Casa de Barretos através da memória da própria comunidade. Elas fazem parte de uma metodologia que os historiadores contemporâneos denominam de “história oral”, isto é, aquela contada em testemunhos na busca da verdade, da realidade e da percepção do passado. Muitos trabalhos acadêmicos da atualidade têm partido desta metodologia, que, apesar de algumas críticas quanto a sua finalidade e seus meios, tem crescido na comunicação visual e escrita nos últimos anos no país. Afinal, no mundo de hoje, cada vez mais globalizado e sem fronteiras, as pessoas buscam por identidade e é na experiência daqueles que vivenciaram momentos de origem que elas se identificam e constituem aquilo que lhes é coletivo e, ao mesmo tempo, peculiar.
Dentro das Ciências Humanas, a palavra História vem do grego antigo historie (significado: testemunho, no sentido daquele que vê) e sua origem é atribuída às “investigações” do historiador Heródoto, cujo termo em grego antigo é Ἱστορίαι (Historíai). Nesse sentido, mesmo com toda a importância dos documentos escritos, pois foi exatamente a escrita que marcou o período que denominamos “História”; foram os testemunhos orais que marcaram os primeiros registros da humanidade, como exemplo os relatos da Bíblia e os poemas épicos de Homero, “Ilíada” e “Odisséia”.
A oralidade surgiu junto com o nascimento da História, uma vez que o primeiro historiador, Heródoto, praticava o que chamamos de “história oral pura”. Ou seja, ao compor os relatos da história da Antiguidade, Heródoto, valia-se apenas das entrevistas e observações com pessoas do povo, soldados, administradores e agentes palacianos. No entanto, outro historiador conhecido na Grécia Antiga, Tucídides, preferia não confiar tanto na memória, fato que o fez gerar um método onde combinavam-se os testemunhos das entrevistas com fontes escritas, isto é, a “história oral híbrida”. Tucídides assim agia por receiar o uso exclusivo de entrevistas, já que os entrevistados poderiam ser considerados instáveis em relação a estado de saúde e ânimo, tendência política, dentre outros fatores.
Com o passar das épocas, principalmente depois da invenção da imprensa por Gutenberg no século XV, a oralidade acabou por se tornar submissa à escrita e por muito tempo ficou nas entrelinhas do estudo do passado. Entretanto, a partir da Segunda Guerra Mundial, com o advento de novas escolas históricas e o surgimento de aparelhos eletrônicos cada vez mais avançados, a história oral voltou a ser critério nas pautas de trabalhos científicos e o uso do gravador entrou em ação. Sendo necessário ressaltar que os rádios e o jornalismo foram fatores essenciais nesta volta da história oral, posto que os primeiros relatos históricos foram difundidos nestes setores de comunicação e a sua intenção era causar a comoção social diante às memórias não mais revalidas pelo tempo.
Paralelo a tudo isso, pode-se dizer que, para construir e organizar a história da Santa Casa de Barretos, utilizar-se-á a história oral, classificada como uma “história híbrida e temática”, onde o tema é o resgate dos noventa anos do hospital e a técnica é a mistura dos depoimentos com as fontes escritas e iconográficas. A comunidade a quem se destina os depoimentos são todas as pessoas que direta ou indiretamente participaram da vida da casa de saúde e que possuem experiências comuns ou individuais refletoras de um passado não muito distante.
Até a presente edição da “Revista Ação e Vida” foram entrevistadas oito pessoas, viventes das mais diferentes épocas e experiências ligadas à Santa Casa. E é com grande reconhecimento que agradecemos as memórias da Dona Solange Galvão, Sr. Ibraim Martins da Silva, Dra. Nilda Bernardi Carreira, Irmã Maria Angélica de Oliveira, Sr. Antonio Magrini, Sr. Althayr Pereira. Sra. Elsa Lucia de Meira e Sr. Luiz Agostinho da Silva Brandão.
E você? O que tem a nos contar? Revele-se, espalhe sua memória e ajude-nos a construir a nossa história. Seja bem-vindo à história oral do hospital da vida.
REFERÊNCIA: MEIHY, José Carlos Sebe; HOLANDA, Fabíola. História oral: como fazer, como pensar. São Paulo: Contexto, 2007.
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