ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI NA REVISTA "AÇÃO E VIDA DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE BARRETOS" EM 3 DE ABRIL DE 2011.
Antonio Magrini, funcionário da Santa Casa de Barretos há quarenta e cinco anos, contou em entrevista como participou das principais obras de construção do hospital e como eram seus antigos cômodos. Uma memória glorificada pela ação de tantos anos de trabalho que vale a pena dividir com a comunidade e com os funcionários da casa de saúde. Trata-se de uma história de vida que as vezes se confunde com a própria trajetória dos noventa anos da Santa Casa.
Antonio Magrini, mais conhecido como “Seu Magrini”, é uma das referências mais citadas pelos atuais funcionários da Santa Casa de Barretos quando se trata de “histórias” a contar sobre o hospital. Dotado de uma memória incomparável, Magrini revela muito entusiasmo em lembrar-se dos acontecimentos passados da Santa Casa e da sua íntima ligação com a instituição. Tudo isso deve-se ao fato de Magrini ser um funcionário considerado dedicado e conhecedor dos mais ínfimos cantos do hospital, o que de fato ele prova ser verdade.
A vida de Antonio Magrini se inicia com seu nascimento, em vinte e seis de fevereiro de 1932 na cidade de Olímpia, mas o primeiro contato com a Santa Casa de Barretos aconteceu anos mais tarde, como ele mesmo recorda: “Me lembro que em 1945 meu pai foi fazer uma mudança de material de construção de Olímpia para Barretos e eu vim junto com ele, e, de fato, quando eu vim parei em frente à Santa Casa. Lembro que eu estranhei aquele prédio, porque eu morava em sítio, olhei e falei assim: “Nossa... a Santa Casa!”. Depois nós viemos morar aqui em Barretos no dia 3 de outubro de 1949, onde minha mãe quebrou a perna e ficou internada na enfermaria coletiva da Santa Casa e eu passei a conhecer melhor o hospital. As visitas eram somente na quinta-feira à tarde e no domingo. Engraçado que a primeira moça que nos atendeu, a enfermeira Aparecida Chaves, hoje é minha esposa”.
Em 1951, o irmão de Antonio, sr. Amâncio Magrini, já trabalhava como pedreiro na construção da maternidade. Com o passar dos anos, Antonio Magrini, que também era pedreiro de uma empreitada, começou a trabalhar na Santa Casa em 19 de abril de 1965 e recorda-se muito bem dessa época, onde se iniciou a Ditadura Militar e o governo do Marechal Castelo Branco. Com a função de pedreiro, Magrini participou de muitas construções, inclusive o Pavilhão iniciado em fins da década de 50, na gestão de Husseim Gemha, e finalizado em 1967 na última administração de Teóphilo Benabem do Vale. “Quando comecei a trabalhar em 1965, ajudei a colocar os azulejos na parte do prédio da Rua 30 e o último serviço naquele pavilhão foi a colocação dos pisos brancos que até hoje estão no andar térreo, fomos eu e o Manoel que assentamos”, explicou.
Em 1967, ainda na gestão do sr. Teóphilo, estava em processo a construção da lavanderia, obra em que Magrini também trabalhou: “para construir a lavanderia tivemos que desmanchar a gruta que ficava bem no canto do muro da Rua 28. O trabalho era dividido entre mim, um pedreiro, dois serventes, o encanador e o mestre de obra; nós trabalhamos aos poucos, porque a Santa Casa estava sem recursos. Me lembro ainda das caixinhas em forma de coração que os diretores mandavam fazer para arrecadar dinheiro para terminar a construção do novo pavilhão”, ressaltou. Ainda mais, em fins da década de 60, devido a necessidade de ampliação do Raio-X, a antiga Capela de Santa Isabel teve de ser derrubada e, sobre isso, Magrini diz: “A antiga capela parecia a nossa Matriz, mas, era menor, ela tinha 12 metros de altura e seu tamanho aproximado era de 8x8 metros, seu piso era em mosaico e na frente tinha uma bela escadaria. Ela teve de ser derrubada para construir o Raio-X, porque até então ele ocupava um espaço pequeno e funcionava onde hoje é o Pronto-Socorro”.
Magrini contou que depois da demolição da Capela de Santa Isabel, as obras em que ele participou foi a construção do departamento de Raio-X (o mesmo da atualidade), a caixa d’agua que comporta 82 mil litros de água e o antigo velório (atual Cedib). Mas talvez a obra mais “histórica” que Magrini trabalhou no hospital foi a demolição do prédio mais antigo da Santa Casa, aquele inaugurado em 1921, que ficava na frente da Avenida 23. Sobre esta obra ele tem muito a contar: “O que posso dizer sobre aquele prédio é que ele foi muito bem construído, só aquela bola de concreto que enfeitava a parte central da fachada tinha mais ou menos duzentos quilos. Os tijolos também eram grandes, no tamanho de 28x13 cm, e eu me lembro do Seu Chico, um velho colega, que contava o trabalho que ele teve na época em transportar estes tijolos da olaria que ficava perto do Frigorifico até a Santa Casa usando um carro de boi. Ele falava que demorava um dia para fazer isso”.
Em relação aos funcionários mais antigos ele se lembra de histórias divertidíssimas do sr. Simões, chefe de escritório, o Quinzinho, a Irmã Maura e os médicos dr. José Conde e dr. Meira. Já sobre os provedores ele recorda: “quando eu entrei no hospital o provedor era o João Rocha e depois foi o Teóphilo. Eu me lembro que, em 1967, quando nós estávamos construindo a lavanderia, ele quis fazer uma festinha na fazenda dele e cada um daria cinco cruzeiros novos para contribuir com a festa, mas infelizmente a caminho da sua fazenda ele acabou morrendo num trágico acidente de carro antes mesmo de fazermos a festinha. Ele foi um provedor que lutou muito pela Santa Casa, foi muito corajoso. Em seguida, entrou o Pedro Falco e ele conversava muito com a gente, perguntava a nossa opinião nas obras de construções. Na época do sr. Althayr eu lembro que houve a continuação das obras e também a reforma na antiga enfermaria coletiva. Com o seu Ibraim também participei da construção do Pavilhão novo, desde 1983”.
De metro a metro, de azulejo em azulejo, de canto a canto, o trabalho de Magrini mostrou ser intimamente ligado à história da própria Santa Casa, pois ele conhece como ninguém cada parte do hospital e sua representação no passado. Quando indagado sobre o que é trabalhar no mesmo lugar há quase cinquenta anos ele carinhosamente diz: “Eu gosto porque tenho amor no que faço, acho que a gente está aqui para fazer o possível e, de minha parte, o que eu puder fazer, eu faço”. Por fim, Magrini demonstrou que a palavra “construção” é de fato o seu melhor sinônimo, pois do mesmo modo que a sua força física foi hábil para a construção de muitos lugares no hospital sua memória é ainda mais essencial para a construção dos noventa anos da Santa Casa de Barretos. O nosso reconhecimento ao querido funcionário.
REFERÊNCIAS: Entrevista com Antônio Magrini no dia 14/1/2011
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