quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

DRA. NILDA BERNARDI CARREIRA: A MÉDICA DOS ANOS DOURADOS

ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI NA REVISTA "AÇÃO E VIDA" DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE BARRETOS - 9/1/2011


Carinhosamente, em entrevista, a dra. Nilda Bernardi Carreira abre o baú de sua memória e desvenda o cenário da Santa Casa de Misericórdia de Barretos nos Anos Dourados. Com vocês, uma das poucas barretenses que trabalhou no prédio mais antigo do hospital e acompanhou suas transformações...

                Muitos dizem que é na infância que se identifica a futura profissão das pessoas, é na cidade onde mora, no seio da família, nos colégios onde estuda que nascem as influências de futuros caminhos profissionais. Talvez pode-se atribuir este senso comum à vida de Nilda Bernardi Carreira, uma médica que outrora queria ser veterinária, mas, que, pelos ditames da vida se tornou especialista em crianças e em psiquiatria; o que a fez, portanto, parte da história do hospital da vida.
Barretense, nascida em meados dos anos 20, filha do comerciante italiano Luis Bernardi e Maria da Glória Bernardi, Nilda Bernardi estudou em Barretos até o ginásio, onde formou-se na oitava série no Colégio de propriedade do sr. Augusto Reis Neves. Para terminar o “colegial”, como se falava na época, Nilda foi sozinha para São Paulo, mas não gostava do clima da capital do Estado e resolveu seguir o conselho de uma amiga e mudar-se para Niterói. Nesta cidade carioca, Nilda prestou o vestibular para Medicina e fez estágio no “Hospital Jesus e da Policlínica de Botafogo”. Então, formou-se em 1949 e tornou-se especialista em Pediatria, sendo conhecida, a partir de então, como dra. Nilda.
                Quando indagada sobre o porquê fez Medicina e especializou-se inicialmente em Pediatria, dra. Nilda relembra que queria ser veterinária, pois tinha um afeto muito grande pelos animais, mas seguindo suas intuições e conselhos de seu pai, tornou-se médica e decidiu isso desde muito cedo:

Me lembro que quando eu estava no grupo escolar ainda, eu pensei vou fazer Medicina, vou ser médica... mas eu vou tratar de neném, porque neném não fala, ele vai me entender e eu vou entendê-lo muito bem. Então, desde menina, eu queria ser médica e já tinha a minha especialidade.

                Depois de formada, dra. Nilda voltou para Barretos em 1951, ocasião em que montou seu consultório particular na avenida 19 e começou a exercer a profissão. Neste período, ela foi a primeira médica mulher da cidade e, conforme a mentalidade patriarcal da época, encontrou alguns percalços pelo caminho, como o preconceito contra a profissional feminina. Inclusive, quando iniciou seus trabalhos na Santa Casa de Barretos, dra. Nilda teve algumas dificuldades deste tipo para entrar no Corpo Clínico do hospital. Foi quando seu colega dr. Matinas Suzuki, também médico recém-formado na época, a ajudou nesta questão e, em 9 de março de 1952, ela integrou-se ao Corpo Clínico da Santa Casa de Barretos, como a única médica mulher. Com bom humor recorda da amizade de seus colegas de trabalho:

Tinha uma salinha que os médicos iam tomar café, então era muito gostoso ficar lá conversando com os médicos, só eu de mulher! Quando eu entrava eles falavam assim: “Agora não pode contar piada porque a doutora chegou”. Era muito divertido.

                Neste período, a Santa Casa passava por mudanças em suas estruturas, uma vez que o provedor Teófilo Benabem do Valle administrava a construção da maternidade, obra que desfez parte do prédio antigo do hospital que ficava do lado da Rua 28. Nesse sentido, a dra. Nilda trabalhou na Santa Casa num momento em que o prédio era divido em duas partes, uma constituída do antigo prédio de 1921 e a outra da nova construção iniciada em 1951. Assim, ela se lembra de detalhes como onde era a entrada, a enfermaria masculina e a feminina, a Pediatria, a Capela e tantas outras dependências do prédio. Sobre o funcionamento do hospital, dra. Nilda disse que existia a sala para Pediatria, mas não existiam médicos especializados e as enfermeiras eram domésticas, foi quando resolveu treiná-las:

Eu ia bem cedinho pra lá, abria o ambulatório, atendia e internava quem precisasse de internação. Quando acabava o ambulatório eu ia tratar das crianças. Aos sábados eu dava aula para as enfermeiras, porque percebi que algumas davam soro na barriga ou na perna e eu explicava “não foi assim que eu aprendi, eu faço na veia”. Eu ensinava tudo... o controle das gotas, dos remédios e os minutos. Eu ia de manhã, à tarde e à noite na enfermaria para controlar o serviço, já que elas não sabiam. Por isso todo sábado, como eu não fazia ambulatório, dava aulas às enfermeiras

                No ano de 1961, acontecia o primeiro “Gente Que É Notícia”, realizado pela Rádio PRJ-8, e entre os nomes dos homenageados constavam a dra. Nilda Bernardi. A médica pediatra conquistou este título por ter fundado em Barretos o “Clube das Mãezinhas”, um clube que funcionava inicialmente no antigo prédio dos italianos e depois na creche da Rua 8, onde as irmãs cediam as salas para fazer as reuniões. Segundo a dra. Nilda:

Os italianos cediam a parte de baixo do prédio à pediatria, para atender as crianças, e o médico que atendia precisava sair e deixar para outro médico cuidar do estabelecimento. Ele foi para Ribeirão e eu assumi o atendimento. O problema é que as crianças e as mães chegavam sujas, muito sujas, e eu decidi educar estas mães para elas também educarem as crianças. E assim nasceu o Clube das Mãezinhas.

                Diante deste cenário, dra. Nilda, fundadora do Clube das Mãezinhas e médica da Santa Casa de Barretos por dezoito anos sem nunca ter exigido remuneração, foi uma das maiores benfeitoras de Barretos no que diz respeito à assistência social, à saúde mental e infantil e à educação dos funcionários do hospital. Em fins da década de 60, já casada com o sr. Manoel Carreira, a primeira médica da Santa Casa deixa o hospital para retomar os estudos na Capital paulista e dedicar-se à Psiquiatria. Depois de um ano, retorna a Barretos e passa a atender em seu consultório na Rua 20, onde encontra-se em atuação até os dias de hoje, totalizando quase sessenta anos de profissão. Um exemplo. Uma memória indissolúvel!

5 comentários:

Nilda Maria disse...

fiquei muito orgulhosa ao ler este artigo e admirar todo o empenho e profissionalismo da minha tia.
Parabéns tia Nilda pelas atividades sociais realizadas em prol dos mais necessitados.

Nilva Hellena Silva disse...

Sim ela é a médica dos anos dourados, mas eu ainda não existia nesta época. Tive o privilégio de conhece-la fazem 25 anos... Ela é a profissional mais empenhada em entender a cabeça, os sentimentos, o sofrimento das pessoas que sofrem de depressão. Acho a Dra Nilda tão singular que tenho a certeza que não haverá outra no Brasil, com a qualidades dela..
Ela se importa realmente... e não são todos assim.

Elma Dezem disse...

Nasci e moro em São Paulo. Vi anúncios de execução de imóveis e por mero acaso resolvi saber de quem se tratava Nilda Bernardi Carreira.
Li seu artigo e fiquei indignada.
Porque a casa em que ela vive está sendo leiloada?
Se ela fez tanto pela cidade, não está na hora da cidade retribuir todo empenho e dedicação?

Unknown disse...

Elma bom dia, sou Nelson Bernardi Filhon sobrinho da Dra. Nilda, se observar bem vai ver que o leilão foi motivado em prol de uma das sobrinhas para quem em testamento deixou o imóvel.Havia uma dívida bancária desta sobrinha e então o motivo do leilão.
Realmente a sua cobrança não deve ser sobre a cidade e sim sobre quem realmente gerou o leilão.

Dela eu herdei ferramentas para trabalhar e uma enorme estima.

Agora as Outras, pela minha descrição voce deve ter entendido!

Mas dinheiro acaba, e minhas ferranmentas estão sempre brilhando.



Unknown disse...

Elma bom dia, sou Nelson Bernardi Filhon sobrinho da Dra. Nilda, se observar bem vai ver que o leilão foi motivado em prol de uma das sobrinhas para quem em testamento deixou o imóvel.Havia uma dívida bancária desta sobrinha e então o motivo do leilão.
Realmente a sua cobrança não deve ser sobre a cidade e sim sobre quem realmente gerou o leilão.

Dela eu herdei ferramentas para trabalhar e uma enorme estima.

Agora as Outras, pela minha descrição voce deve ter entendido!

Mas dinheiro acaba, e minhas ferranmentas estão sempre brilhando.