ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI NO JORNAL "O DIÁRIO" (BARRETOS/SP) EM 10 DE DEZEMBRO DE 2010.
Hoje a noite barretense festeja o 6º Jantar Solidário em benefício da Santa Casa de Misericórdia de Barretos. Trata-se de uma noite festiva promovida pela instituição com a intenção de arrecadar fundos ao hospital e aproximá-lo da comunidade como uma assistência mutua, o hospital ajuda na saúde da população e esta, por sua vez, retribui. Este hábito de vitalizar a participação da população em eventos beneficentes do hospital pode ser considerado uma tradição na Santa Casa, porque desde a década de 20 esta prática é presente em campanhas realizadas pelo estabelecimento.
Nos anos 20, os Provedores e a Mesa Administrativa da Santa Casa de Barretos elaboravam atividades em parceria com a comunidade e com instituições culturais da época. Por exemplo, existiram campanhas em que teatros cobravam uma taxa a mais nos ingressos em prol do hospital ou separavam um dia do mês especial em que toda a renda dos espetáculos era revertida à Santa Casa. O mais comum, no entanto, eram as partidas de futebol entre os administradores e funcionários do hospital, onde era cobrado um ingresso da população para angariar fundos à instituição.
O principal meio de comunicação usado para atrair a comunidade barretense nos eventos da Santa Casa da década de 20 era a imprensa. Jornais como “A Semana” e “O Popular” anunciavam as atividades sociais do hospital baseados em discursos atrativos com o intuito de sensibilizar a população diante às necessidades da instituição, que carecia de auxílio desde sua fundação, pois a situação financeira sempre foi muito apertada. Nestes discursos a palavra mais utilizada certamente era caridade, uma expressão benquista pela mentalidade da época já que as pessoas possuíam como orientação de vida os preceitos religiosos. Portanto, com a finalidade de conquistar benfeitores ao hospital, os discursos da imprensa davam a entender que se a ajuda das pessoas à Santa Casa tivesse nome, este seria “caridade”.
A palavra caridade muitas vezes era empregada no sentido de civilização, como bem mostra as impressões de um padre que assina o Livro de Visitantes do hospital em 1937: “Os institutos de caridade de um povo, de um núcleo humano, marcam o grau de sua civilização, porque é falsa toda ideia ou melhoria social que não tenha por finalidade o aperfeiçoamento integral do ser humano”. Desta forma, conforme as crenças da época, um hospital que atendia os “desprotegidos da sorte” era o maior benfeitor da caridade humana e, por sua vez, quem ajuda o hospital também pratica a caridade.
Quantas interpretações uma palavra pode dizer sobre o hospital não é? Hoje, nesta noite, a palavra para quem ajuda a Santa Casa de Barretos é “solidário”; talvez uma maneira de expressar parte da caridade que as pessoas podem oferecer ao hospital. Posto que, caridade, um recurso expressado pela humildade e não por grau de instrução, é um benefício que pode ser exercitado em pequenos gestos de solidariedade ao próximo. Nos vemos lá!
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