quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

O NOVO PAVILHÃO E O DRIBLE NA INFLAÇÃO

ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI NA REVISTA "AÇÃO E VIDA" DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE BARRETOS - 9/1/2011


Em entrevista descontraída, o ex-provedor da Santa Casa de Barretos revela em detalhes como conseguiu angariar fundos à construção do pavilhão, inaugurado em 1988, com recursos próprios do hospital.

“Quando essa época passar e a as pessoas se sentirem mais humanas, vão
 refletir melhor e verão que essa obra foi abençoada por Deus para vocês.
Então todos terão paz e saberão respeitá-la.”
(Ibraim M. da Silva, em discurso – 05/11/1988)

                Nascido no ano da Revolução Constitucionalista, em Riolândia, Ibraim Martins da Silva mudou-se para Barretos ainda menino, onde terminou seus estudos e angariou muitas experiências nos setores públicos da cidade. Logo se tornou o provedor que mais tempo administrou a Santa Casa de Misericórdia de Barretos, dezesseis anos na primeira gestão e depois seis anos na segunda. A trajetória de Ibraim Martins da Silva no hospital se iniciou na gestão do provedor Lourival Ribeiro de Mendonça, em 1976, ocasião em que foi mesário. Na administração seguinte, do sr. Althair Pereira, Ibraim exerceu o mesmo cargo, depois desta experiência foi eleito provedor em 1981 e neste momento o hospital viveu uma de suas principais transformações ao longo dos 90 anos de sua história. Uma época ainda lembrada por muitos barretenses.
                Durante o primeiro período em que Ibraim foi provedor (1981-1996), o Brasil passava por mudanças sociopolíticas e oscilações na economia, o que poderia repercutir na Santa Casa uma grande instabilidade e desestrutura em seus recursos e aplicações. Fato que foi driblado pela administração de Ibraim, a qual foi muito elogiada nos jornais da época, que destacavam o sufocante momento em que passava o país e a habilidade do provedor em superar este cenário. Quando indagado sobre o período da primeira gestão, Ibraim recorda:

Naquela primeira gestão, nós tivemos fases distintas, de muita dificuldade e fases de até muita facilidade. Na primeira fase a dificuldade foi porque a Santa Casa atendia todas as pessoas e naquela época o INPS não pagava todo o atendimento, só quem era previdenciário e tivesse visto em carteira de no mínimo um ano. Mas, aquelas pessoas que não tinham o direito de ser atendidas pelo INPS, no fim iam para a Santa Casa do mesmo jeito porque o hospital atendia, eram os chamados indigentes. Esta situação da instituição só se modificou durante o governo do Presidente Ernesto Geisel, onde ele institui que todo o atendimento da Saúde tinha que ser pago pelo INPS, independente de ser registrado como empregado ou não. Então, nesta época, nós tivemos um benefício muito grande, passamos a receber, embora em valores menores, por todo o atendimento.               

                Paralelo a estes novos benefícios concedidos pelo governo federal, ondulava pelo país um índice inflacionário altíssimo, de 84% ao mês. Ibraim exemplifica que um produto que valia 100,00R$ no início do mês passaria a custear 184,00R$ no fim do mesmo mês, e, por incrível que pareça, foi exatamente esta inflação que ajudou o hospital a construir um novo pavilhão, através dos juros da poupança. Pois, segundo Ibraim:

A inflação era muito pesada, mas também o governo daquela época pagava o reajuste inflacionário, então chegamos a receber o reajuste de 84% ao mês e com isso nós conseguimos fazer uma reserva de dinheiro e construir o prédio novo do hospital com recursos próprios.

                Desta maneira a Santa Casa, sem ajuda financeira municipal, estadual e federal, entrou em obras a partir de 1983 e seu novo pavilhão foi inaugurado em 05 de novembro de 1988, não só o pavilhão bem como todas as instalações e equipamentos montados. De acordo com os registros do Jornal “O Diário” de 1988, o novo prédio contava com nove mil metros quadrados de área construída distribuídos em sete andares na seguinte ordem: Subsolo: garagem, almoxarifado e oficina; Andar térreo: Pronto-Socorro, Laboratório de Análises, Laboratório de Patologia, Banco de Sangue, Recepção, Internação, Central-Telefônica e Telefonistas; 1º andar: Centro-Obstétrico, Maternidade, Berçário e Lactário ; 2º e 3º andares: as clínicas médicas; 4º andar: Pediatria, 5º andar: clínicas cirúrgicas; 6º andar: UTI.
Ao término da construção do pavilhão, todos os setores estavam equipados com os quartos mobiliados de camas, armários, mesas, cadeiras, ligações de oxigênio, ar comprimido e vácuo. A UTI também encontrava-se totalmente montada e novos equipamentos foram adquiridos para o Raio-X e Centro Cirúrgico. Ainda mais, recentes serviços foram implantados como os Departamentos de Fisioterapia, Hemodiálise, Tomografia e outros. A Hemodinâmica, mesmo com aparelhos de última geração e com profissionais devidamente aplicados, por problemas alheios ao hospital não pode funcionar em sua plenitude, fato que acontece até hoje.
                O dia da inauguração, realizada às 10:00hs, foi muito comemorado pela população barretense que compareceu em grande estilo na ocasião, como bem mostram as fotografias. O ato oficial do corte da fita foi realizado em conjunto pelo jornalista Ruy Menezes, o médico Luiz Carlos Lorenzi, a funcionária Cidinha e a Irmã Herminia. Muitas autoridades estavam presentes na solenidade, tais como o deputado estadual Waldemar Chubaci, o bispo diocesano Dom Antonio Maria Mucciolo e foi orador o sr. Mélek Zaiden Geraige. As vistas também se lançaram diante um grande colaborador que foi o sr. Hildebrando de Souza, que, por sua atuação como administrador da construção do novo prédio, foi muito destacado pela imprensa.
                Por tamanho desempenho e popularidade, a administração do sr. Ibraim Martins da Silva continuou num segundo momento a partir de 2001 até 2006. Como ele mesmo disse, a Santa Casa passava por momentos difíceis, em razão do contexto da época, e em pronunciamento Ibraim explicava que “aquilo que foi feito na primeira gestão, possivelmente na segunda não se faria... era outra época”. Mas, esta última administração também foi muito útil, onde muitos serviços foram implantados.      
                Por fim, com tanta experiência e detalhes a contar, Ibraim ensina que:

A Santa Casa sempre teve problemas e isso nunca vai acabar, porque o problema é a questão financeira, já que o número de pessoas é grande para atender, tem que ser atendido e no fim não tem outra opção a não ser a Santa Casa, então a dificuldade é essa: muita procura e pouco recurso para poder satisfazer esta procura.

Por outro lado, revela a satisfação de ser provedor e junto a uma equipe promover melhorias à saúde pública de Barretos: “é uma satisfação muito grande, intimamente você sente aquilo... é a retribuição”. Ibraim destacou que teve a felicidade de contar com uma equipe extraordinária de funcionários, dos médicos que sempre colaboraram, de todos os diretores clínicos que conviveram com ele e muito o ajudou na administração. A imprensa deu amplo apoio ao empreendimento deixando as portas abertas para todas as divulgações. Disse ainda que, para concretizar a obra contou sempre com valiosas colaborações de seus companheiros de diretoria e em nome de Antonio Francisco Scannavino, Nico Amêndola, Walder Reco, Luiz P. Veloso e Miguel Angelo Canônico agradece todos aqueles que participaram da diretoria e conseguiram que o empreendimento alcançasse seus objetivos.
E, assim, nesta onda de retribuição, em resposta ao discurso que o sr. Ibraim fez na inauguração do pavilhão e que encima estas linhas, a comunidade barretense agradece e respeita os serviços e a hábil atuação do ex-provedor no hospital da vida. 

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