quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A SANTA CASA NA HISTÓRIA DE BARRETOS: O ACOLHIMENTO DA ENFERMARIA

ARTIGO PUBLICADO POR KARLA O. ARMANI NA REVISTA "AÇÃO E VIDA" DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE BARRETOS - 9/1/2011

           A Santa Casa de Misericórdia de Barretos, no decorrer de seus 90 anos de história, fez parte dos momentos marcantes de Barretos e do Brasil. Os anos de 1925 e 1932 transbordavam manifestações turbulentas e levantes militares em certas regiões do país, o que de fato repercutiu na pequena Barretos da época. E, assim, o hospital da vida tem muito a contar...               
                Desde 1924 o Movimento Tenentista e a Coluna Prestes cresciam no Brasil, entre alguns motivos estavam o descontentamento de certos segmentos militares da sociedade brasileira perante o governo do presidente da República Arthur Bernardes. A Coluna Prestes, liderada pelo conhecido cap. Luiz Carlos Prestes, já havia percorrido 25 mil quilômetros em uma grande marcha quando um coronel de Barretos decidiu participar de tal levante. O nome dele era Philogônio Teodoro de Carvalho, o Filó, uma figura curiosíssima que, no ano de 1925, junto a uma milícia formada por ele, prenderam o delegado na própria cadeia, ocuparam a Cia. Paulista de Estrada de Ferro de Barretos, não deixando sair nenhum trem da cidade, e interceptaram as comunicações telefônicas tentando formar uma nova junta administrativa em Barretos e se integrar à Coluna Prestes.
                Baderneiro ou revolucionário, o fato é que Filó não conseguiu sua alçada e teve de fugir para Minas Gerais.  Como resultado deste “susto” que passou a população barretense, em julho de 1925, para conter futuras revoltas, a mando do governo federal chegava a Barretos um batalhão de Pelotas (RS), composto de quatrocentos e oitenta homens sob o comando do tenente coronel do 9º Regimento de Infantaria, Tancredo Fernandes de Mello.
E agora que a Santa Casa de Barretos toma cor nesta história...
                Como prova desta passagem, em sete de julho de 1925, o cel. Tancredo assinou o ilustre Livro de Visitantes da Santa Casa e deixou suas eternas impressões: “Ao penetrar-se nesta casa santa, se sente, perfeitamente, que os seus benemeritos directores conhecem bem o preceito divino: Amai ao próximo como a ti mesmo. Deus os proteja”. No entanto, o mais interessante é a passagem de trinta soldados do exército atendidos pela enfermaria do hospital nesta ocasião, sendo que os soldados atendidos tinham a média de 25 anos de idade e apresentavam como principais doenças reumatismo e gripe. Segundo as evidências, a enfermaria da Santa Casa de Barretos foi em parte cedida ao 9º Regimento de Infantaria que ficou na cidade por vinte e oito dias.
                Outro acontecimento reconhecidamente importante na história do Brasil e que aterrissou em Barretos foi a Revolução Constitucionalista de 1932. Paulistas lutavam pela retomada do poder e pela volta da Constituição Republicana suprida pelo presidente Getúlio Dorneles Vargas. Em Barretos formou-se de início o “Grupo dos 52” e aos poucos os barretenses se alistavam para lutar contra mineiros e goianos nos portos das divisas dos Estados. A participação de todos foi fundamental, tanto que muitas mulheres de famílias tradicionais doaram suas jóias em prol da Revolução, compondo o que ficou conhecido como “Campanha do Ouro Paulista”.
                Em ata de 30 de outubro de 1932, assinada pelo jornalista Osório Rocha, o provedor da Santa Casa de Barretos, Sr. José Pereira Soares, declarava que “o hospital prestava durante o movimento revolucionário serviços aos soldados do Batalhão Marcondes Salgado” e que “durante a Revolução veio da Capital um técnico, trazendo aparelhos e outros objetos destinados à instalação de um laboratório de análises clínicas”. Laboratório este que no mesmo ano já estava funcionando.
                De fato, o Livro de Registro dos Pacientes mostra que, durante o período da Revolução de 1932, foram atendidos onze soldados, quatro sargentos e um tenente, sendo um ou outro com ferimento por arma de fogo. Além disso, a partir do ano de 1934 a Santa Casa passava a receber donativos referentes aos produtos das jóias doadas em Barretos e resgatadas pelos doadores através da Comissão da Campanha do Ouro.
                Assim, o “hospital da vida” atravessou as barreiras do tempo e construiu, passo a passo, uma história que compõe os principais momentos da vida de Barretos e uma memória que emociona a todos.

REFERÊNCIAS: MACHIONE, F. G. J.; TINELI, R. A. Philogônio: o revolucionário esquecido. Barretos, 2001.
ROCHA, Osório. Barretos de Outrora. s/Ed. Barretos, 1954. 

2 comentários:

Yuri Abyaza Costa disse...

Cara professora

a título de curiosidade colei este link.

http://colunamiguelcostaprestes.blogspot.com/2010/06/coluna-miguel-costa-prestes.html

Unknown disse...

Por favor... sabe dizer onde foi construido o primeiro prédio da Santa Casa de Barretos?