A preocupação com a saúde pública, bem como a assistência aos mais necessitados, já era uma característica presente nos tempos da Antigüidade e que se tornou mais sólida com a disseminação do Cristianismo. Os pilares do Cristianismo convergiam-se à caridade, isto é, a solidariedade com o próximo e o reconhecimento da dignidade essencial de cada um, acima das diferenças culturais, sociais e raciais. De fato, conforme os ensinamentos cristãos se intensificavam na Idade Média, a preocupação com as pessoas abandonadas e com os doentes desvalidos pelas fomes, guerras e epidemias crescia cada vez mais. Assim sendo, corporações como mosteiros, irmandades e confrarias organizavam-se na criação de hospitais que prestavam serviços à saúde física e moral da população.
Foi neste contexto que surgiu a “Ordem das Misericórdias” no reino de Portugal na transição do século XV para o XVI, que teve como incentivadora e mecenas a Rainha D. Leonor, esposa de João II. Segundo relatos da época, D. Leonor, “mulher de beleza e inteligência invulgares”, foi influenciada pelos exemplos do frade espanhol e seu confessor Miguel de Contreiras, que saia pelas ruas de Lisboa recolhendo esmolas para dar aos pobres. Com a instalação da Santa Casa de Misericórdia de Lisboa, o Brasil, na condição de colônia de Portugal, logo herdou a instituição religiosa e hospitalar.
Portanto, a “Ordem das Santas Casas de Misericórdia” é um legado que os brasileiros herdaram do passado colonial, ou seja, quando o Brasil era uma colônia de Portugal e muitas vezes reflexo do que lá acontecia. As primeiras Misericórdias no Brasil se instalaram no litoral, em razão dos socorros prestados aos marinheiros que chegavam aos portos brasileiros depois de penosas e longas viagens no Atlântico. A Santa Casa de Misericórdia de Santos foi a pioneira a ser fundada no Brasil em 1543 por Brás Cubas, depois vieram as de Salvador, Espírito Santo, Olinda, Rio de Janeiro, São Paulo e outras. No decorrer da história do Brasil, as Misericórdias se encaixaram nos contextos das épocas e integraram à cultura brasileira, espalhando-se em todo o território nacional.
Em Barretos, a instalação da Santa Casa de Misericórdia era requisitada desde meados do século XX, quando em 1918 começou a ser construída e em 1921 inaugurou seus serviços. Por sua origem colonial e intimamente católica no Brasil, a presença das Irmãs Franciscanas nas atividades do hospital foi constante desde meados da fundação da Santa Casa de Barretos. Além disso, desde o início da década de 30, o hospital pedia ao Reverendo Bispo de São Carlos a nomeação de um capelão para a instituição. Este pedido foi cumprido com a chegada do Padre José César e logo foi também criado o principal símbolo da religiosidade original do hospital: a construção da Capela de Santa Isabel.
Um momento festivo na Santa Casa foi a cerimônia de colocação da primeira pedra da Capela do hospital, realizada em 01º de maio de 1932. Na época era Provedor da instituição o Sr. José Pereira Soares e a Diretora do Serviço Interno era a Irmã Edmunda, ambos convidaram autoridades políticas e religiosas que depois de assistirem a cerimônia assinaram a ata e depositaram cartões de visitas, fotos, jornais da época dentro de uma urna que foi enterrada debaixo da construção. A cerimônia aconteceu após a celebração da missa realizada pelo Capelão do hospital e conta-se que o padre ressaltou a vontade dos fundadores do hospital da Capela ficar sob a denominação de Santa Isabel.
Que bela edificação era a Capela de Santa Isabel! Quando foi inaugurada era um belo e pequeno prédio que ficava ao fundo do terreno, hoje é parte interna da Santa Casa e, do mesmo modo do passado, continua a acolher a todos que fazem parte da vida do hospital. Religiosidade e assistência, nas devidas proporções, são palavras que se legitimaram no trajeto histórico da “Casa de Misericórdia de Barretos”, o atual hospital da vida.
REFERÊNCIAS:
MESGRAVIS, Laima. A Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, 1599?-1884: contribuição ao estudo da assistência social no Brasil. São Paulo, Conselho Estadual de Cultura, 1976.Acervo documental da Santa Casa de Misericórdia de Barretos.
2 comentários:
Parabéns pelo blog
As informações são excelentes
Estou seguindo vc
Abs
Lamento informar que a primeira Santa Casa do Brasil surgiu em Olinda, no ano de 1539, portanto antes da Santa Casa de Santos. Isto está em Pereira da Costa e integra a bibliografia publicada pela organização. Vou escrever sobre esse pioneirismo.
Geraldo Pereira
pereira.gj@gmail.com
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