ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL "O DIÁRIO DE BARRETOS" EM 4 DE MAIO DE 2021 (página 2) PELA PROFª KARLA ARMANI MEDEIROS
Que me desculpe Silvestre deu Lima e
a sua perspicaz intelectualidade, que me perdoe a sagacidade do Cel. Almeida
Pinto e que não me ouça o Cel. Jesuíno de Mello, nem o juiz Joaquim Fernando de
Barros – todos viventes em Barretos e donos de uma poderosa escrita - mas,
quando me pedem para eleger um ilustre intelectual na história da cidade, meus
dedos correm a digitar: Jorge Andrade, barretense. Não por acaso, na virada do
mês de maio, lembrei-me dele, de sua figura junto à máquina de escrever, já que
no dia 21 ele completaria 99 anos. A mim, maio profetiza Jorge Andrade.
Não consegui esperar o dia 21,
precisei correr às teclas para lembrar a todos os 99 de Jorge. Ano que vem, em
seu centenário, ele certamente receberá as mais justas e belas homenagens, mas
quis me adiantar. Alguém que sai da aristocracia interiorana, entra à
dramaturgia depois ter sido aconselhado pela diva Cacilda Becker e que teve sua
primeira peça como marco inicial na carreira da (também diva) atriz Fernanda
Montenegro, merece ser lembrado e reverenciado.
A sensibilidade de Jorge Andrade é
traduzida em seus textos através de uma crítica social certeira, que de maneira
inteligente denunciava as questões sociais e políticas de um Brasil
interiorano, esquecido e renegado. A tríade “A Moratória”, “Veredas da Salvação”
e “Pedreiras das Almas” é um retrato da História do Brasil, em complexas fases,
a ponto da composição dos personagens, a movimentação das cenas e o texto
sincero ser confundido com a própria realidade do que de fato aconteceu. Para
um historiador, é nítido o quanto Jorge conhecia profunda e criticamente o
passado brasileiro a ponto de exprimir uma dramaturgia que grita, que não desmerece
a inteligência de quem assiste, ao contrário, eleva à reflexão a assuntos
superiores.
O texto de Jorge nos convida ao
conhecimento do que (e o porquê) os brasileiros nunca conseguiram ser. Sua
máquina datilográfica parece ainda ressoar, é atemporal. Enquanto Barretos existir,
Jorge será lembrado. Viva os seus 99!
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